Evento promovido pelo Programa de Equidade, em parceria com a Ejud-12, aconteceu na sala de sessões do Tribunal Pleno
O Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região (TRT-SC), por meio do Programa de Equidade de Raça, Gênero e Diversidade, e em parceria com a Escola Judicial, promoveu na sexta-feira (22/11) uma série de atividades para marcar o Dia da Consciência Negra, celebrado no feriado nacional do dia 20 de novembro.
As ações ocorreram na sede da instituição, em Florianópolis, na sala de sessões do Tribunal Pleno. Foram duas palestras, uma oficina e uma apresentação da Escola Olodum Sul.
O evento foi aberto com a execução do “Hino à Negritude”, composto pelo professor Eduardo Oliveira, fundador do Congresso Nacional Afro-Brasileiro (CNAB). Em seguida, a Companhia Imalê, da Olodum Sul, realizou uma apresentação que homenageou a ancestralidade afro-brasileira, incluindo a declamação da poesia “Acrobata da Dor”, do catarinense Cruz e Sousa.
Também foi relembrada a memória de Pedro Leite e Capitão Amaro, figuras negras de São José que marcaram a virada do século XIX para o século XX com sua irreverência, histórias e representatividade. O grupo apresentou ainda uma roda de capoeira, além de músicas e danças que exaltam o orgulho e a identidade negra.
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Longo caminho
O presidente do TRT-SC, desembargador Amarildo Carlos de Lima, saudou os presentes e destacou a importância de refletir sobre a busca por equidade racial. Segundo ele, ainda há um longo caminho a percorrer. “Temos muito a fazer para reparar esta dívida histórica com um povo que tanto sofreu e que ainda sofre com a exclusão e o preconceito”, disse ele.
A juíza do trabalho Andrea Pasold, coordenadora do Comitê de Equidade de Raça, Gênero e Diversidade, também discursou na abertura do evento, apresentando o trabalho do Comitê. “Não basta apenas não ser racista; precisamos ser antirracistas e avançar da esfera do antirracismo individual para o combate ao racismo estrutural, utilizando os espaços de poder para promover mudanças. É isso que esperamos com este evento”, conclamou.
Em sua fala, a juíza também homenageou a memória da desembargadora Maria Aparecida Caetano, única desembargadora negra do TRT-SC, falecida em 2019. “Que sorte tivemos de um dia termos ela conosco, e esperamos que, em breve, mais ‘Cidas’ possam atuar aqui.”
Garantia de igualdade
O evento prosseguiu com a palestra da presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB de Santa Catarina (SC), a advogada Márcia Lamego, que falou sobre o papel do Judiciário na promoção da igualdade racial.
Márcia estudou em escola pública estadual e relatou o quanto precisou se empenhar para se formar na universidade e atuar na advocacia. Ela faz parte do grupo de 567 advogados e advogadas negros, de um total de 76 mil profissionais registrados no estado.
Sua fala teve como objetivo incentivar a reflexão sobre a baixa representatividade de negros e negras em cargos do Judiciário e o impacto disso nas decisões proferidas. De acordo com a palestrante, aumentar a representatividade racial “garante a igualdade”.
“Quem sofre o racismo sabe e sente o que é passar por isso e, a partir desta perspectiva, tem mais capacidade para julgar ou auxiliar no julgamento de um processo que envolve esse assunto”, destacou Márcia. Ela defendeu que as políticas de diversidade e inclusão no Judiciário têm relevância não apenas para o ambiente de trabalho, mas para o direito como um todo.
De acordo com dados coletados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), atualmente existem 11.620 processos de crimes de racismo em tramitação em todo o país, sendo que 636 tramitam em Santa Catarina.
Decisões mais inovadoras
Logo após, a advogada e escritora Michelle Koguta fez uma palestra sobre a importância da inclusão de pessoas negras em cargos de liderança. Seu discurso foi focado no mercado de trabalho em geral, esclarecendo o quanto a diversidade nas empresas impacta a tomada de decisões.
“A diversidade nas equipes de liderança promove uma gama mais ampla de perspectivas, resultando em decisões mais informadas e inovadoras. Além disso, permite que as organizações compreendam melhor as necessidades de um mercado diversificado”, esclareceu Michelle.
De acordo com a palestrante, os líderes negros trazem vivências que desafiam normas estabelecidas, fortalecem iniciativas de inclusão e servem também como modelos positivos, incentivando jovens profissionais a aspirar papéis de liderança e a romper barreiras.
“Hoje eu sou respeitada porque me tornei uma líder. Tenho a oportunidade de trabalhar em um lugar que investe na educação. Aliás, é crucial que as empresas incluam em suas políticas corporativas o compromisso com a capacitação contínua em diversidade e inclusão. Não basta contratar um público diverso e não educá-lo”, reforçou Michelle Koguta.
Estratégias antirracistasO evento foi encerrado com a oficina “Estratégias de Antirracismo e Inclusão Efetiva”, ministrada pela psicóloga Deborah Medeiros (à dir. na foto), especialista na identidade branca brasileira e reconhecida pelo Prêmio Maria Felipa. Ela descreveu o racismo como processo que resulta na desumanização de pessoas negras.
A maneira de combater esse fenômeno, segundo Deborah, passa também pela discussão de práticas racistas entre pessoas brancas, pois quando uma “rompe com outra, ela está criando uma fissura no racismo estrutural.” Com isso, a dinâmica da oficina foi a divisão dos presentes em grupos para se apresentarem, falarem o que estão sentindo e discutir uma provocação feita por Deborah.
A psicóloga deixou o encontro “olhando o copo meio cheio” depois de se reunirem novamente para compartilhar as discussões. A juíza Andrea Pasold (foto, à esq.) encerrou o evento reforçando a fala da especialista e citando uma das obras da escritora Djamila Ribeiro, “Todo mundo tem um lugar de fala.”
Assista ao vídeo publicado na rede social do TRT-SC.
Texto: Andréa Gonçalves (estagiária) e Priscila Tavares
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