Despedida do magistrado reúne mais de 200 pessoas em Itajaí

Marcus Pina tinha relacionamento estreito com servidores, que compareceram em peso na cerimônia de sepultamento

26/09/2008 19h50

Ele não era um homem de meias palavras. O que tinha para dizer, o fazia sem a menor cerimônia, mesmo que o excesso de sinceridade, por vezes, pudesse ser mal interpretado. A mesma disposição para falar, tinha para ouvir. E com bons argumentos, qualquer um era capaz de convencê-lo. Aceitava o erro, repudiava a deslealdade. Afinal, era um "italiano de sangue quente", como costumava se autodefinir.

O brevíssimo perfil do juiz Marcus Pina Mugnaini, descrito acima, evidentemente é incapaz de contar os 59 anos de sua vida. Vitimado por um enfarte fulminante na última quarta-feira (24), sua morte deixa um profundo vazio no mundo acadêmico e jurídico. Na academia, porque não economizou esforços para que a Justiça do Trabalho começasse a capacitar seus juízes, a partir de convênio firmado com a Universidade do Vale do Itajaí (Univali) para curso de mestrado, em 1999, em atitude pioneira no Brasil.

No mundo jurídico, porque Marcus Pina era um magistrado que olhava para além dos vidros de seu gabinete, buscando aproximar a justiça da sociedade. Prova disso foi sua participação decisiva para por fim à greve dos motoristas e cobradores do transporte coletivo da Grande Florianópolis, em maio deste ano, ao lado do colega Alexandre Ramos.

E os servidores? Bom, sua relação com eles foi um capítulo especial. Marcus Pina circulava entre os servidores com um nível de formalidade zero, como se fosse um deles, ou melhor, "um dos nossos", como gostava de dizer. “Eu assumi a Presidência do TRT/SC para que o Manoel Raulino, da Reprografia, encontre o Celso 'Pintor' no corredor do Tribunal e diga para ele: é um dos nossos que está lá", disse, em seu discurso de posse.
 

Olhares derrubados

A presença de mais de 200 pessoas no enterro, quase metade delas composta por servidores e juízes, dá a dimensão dessa estreita ligação. Durante a cerimônia, realizada na nublada tarde de quinta-feira (25), em Itajaí, no Cemitério Parque Crisântemos, alguns servidores bem que tentaram falar, sem muito sucesso. Todos se cumprimentavam em silêncio, com olhares derrubados que afogavam toda e qualquer palavra.

Willian Paulo Pereira, diretor de secretaria da 2ª Vara do Trabalho de Itajaí, mal conseguia falar. Trabalhou nove anos ao lado do juiz Marcus na unidade e lembra um episódio que demonstra a simplicidade do magistrado. "Eu vim da Justiça Comum para a Justiça do Trabalho e lá, quando o juiz entrava na sala de audiências, os servidores tinham que se levantar. Fiz isso a primeira vez, ele me mandou sentar; fiz a segunda, me disse a mesma coisa. Na terceira vez já não me levantei mais. Ele me olhou e fez um sinal de positivo", lembra ele.

Marcus Pina tinha uma visão prática e utilitária do processo do trabalho: uma ferramenta promotora de Justiça, desprovida de liturgias e ritos pomposos. "Você já ouviu falar no processo pagodeiro? Era como ele costumava chamar aqueles processos com muitas manifestações e despachos: 'diga aqui, diga lá, diga aqui, diga lá, diga aqui, diga lá", lembrou Cláudia Cavalheri, assessora da Presidência.

Os juízes mais novos, que o tinham como mentor, também comentaram o vácuo deixado por Marcus Pina. "Perdemos não apenas o magistrado e professor, mas também uma grande figura humana", afirmou o ex-aluno e atual juiz substituto Alessandro da Silva, que escreveu uma crônica sobre o presidente, a qual publicamos nesta edição.
 

A despedida

Luciana, a mais velha, era a mais emocionada dos quatro filhos do magistrado - ele também deixou órfãos Liliana, Paulo Henrique e Marcus Vinícius. Um pouco antes da despedida definitiva, mais lágrimas. O procurador de justiça Joel Braga de Araújo, amigo fiel, lembrou da última conversa que tiveram, em Florianópolis: "Ele me disse que queria se aposentar, pois sentia cada vez mais vontade de ficar perto dos filhos e dos netos".

Mais emocionadas foram as palavras do irmão, Maurício. Em sentido figurado, passou a pedir perdão ao juiz Marcus pela falta de compreensão em relação a algumas de suas atitudes, como o jeito despojado que o presidente tinha de se vestir. "Agora, meu irmão, finalmente, vendo todas essas pessoas ao seu redor, consigo entender porque você era "um dos nossos".


 


Fonte: Assessoria de Comunicação Social
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