O amor não tem DNA

No Dia Nacional da Adoção, confira relatos de servidoras e magistradas do TRT-SC sobre esse ato de amor incondicional

22/05/2020 17h41, atualizada em 25/05/2020 14h03

Cerca de 5 mil crianças e jovens no Brasil aguardam ansiosamente a oportunidade de encontrar uma família. Para dar visibilidade a esses pequenos, nesse momento difícil por que o país e o mundo atravessam, o Conselho Nacional de Justiça está reeditando pelo quarto ano consecutivo a campanha #AdotarÉAmor2020, em alusão ao Dia Nacional da Adoção, 25 de maio.

O objetivo é envolver todos os tribunais do país em um grande tuitaço nas redes sociais, divulgando informações e mostrando histórias de adoções. Aqui no TRT-SC, solicitamos a duas magistradas e duas servidoras que fizessem um depoimento sobre a experiência de adotar uma criança, um ato de amor incondicional que muda vidas. Confira-os abaixo:


O amor não tem DNA
Patrícia Pereira de Sant'Anna, juíza titular da 1ª VT de Lages
 

Juíza Patrícia com os filhos João Miguel e
Juíza Patrícia com os filhos João Miguel e Gregório Felipe



"Desde os 8 anos, eu já sabia que a adoção participaria da minha vida. Só não tinha ciência de que seria de uma forma tão forte e definitiva. Tive uma professora de português, tia Déa, que adotou uma menina de uns três anos na época, mesmo já tendo quatro filhos biológicos. Aquilo me tocou profundamente, mesmo com pouca idade, e resolvi que, algum dia, em minha vida, faria a adoção. Passados anos, depois de sucessivas gestações sem sucesso e sem respostas para o motivo, um dia, acordei e, ainda de olhos fechados, senti ou ouvi: é pela adoção. Depois desse dia, meus passos passaram a trilhar esse caminho. Hoje, sou mãe de João Miguel, com 11 anos, e Gregório Felipe, com dois. Para quem não sabe o que é a adoção, tem preconceito, ou não consegue entender de onde vem esse amor que corta o peito e acalenta a alma de uma forma tão plena, só tenho a dizer: o amor não tem DNA; permitam-se".
 

 

Sonho que preenche o ser
Rosemeri França Gonçalves Knopik, servidora do Gabinete da Desembargadora Quézia Gonzalez
 

Rosemeri em foto posada com o marido e as duas filhas
Rosemeri, o marido e as filhas Gisele e Karine


"A adoção surgiu na minha vida a partir do momento em que comecei a lecionar para alunos da 3ª série. Durante as apresentações das crianças para as mães, sonhava em ser a espectadora e transmitir todo o amor guardado no coração. Em busca desta realização, eu e meu esposo iniciamos o processo em 2017. Após dois anos, em grupo de WhatsApp da ONG Trilhas do Afeto (Londrina PR), recebi a mensagem de busca ativa de duas lindas meninas, Gisele e Karine, e entramos em contato com a assistente social do Fórum de Prudentópolis (PR). Diga-se de passagem, a equipe da Vara de Infância e Juventude daquela Comarca é excepcional, porquanto envidaram esforços para atender aos finais de semana - inclusive feriados - direcionando a aproximação com desmedido esmero, eficiência e eficácia, o que contribuiu significativamente para o êxito do processo de adoção. Hoje, a maternidade é o alento para minha vida, sendo a adoção a concretização deste sonho que a cada dia preenche meu ser!

 

"Você é muito boa em cuidar de mim"
Denise, assistente social na Coordenadoria de Saúde
 

Denise, o marido e a filha Mariana em foto posada e de ângulo fechado, todos sorridentes
Denise, o marido e a filha Mariana 



Mês de maio é intenso! Dia das mães, mês que Mariana nasceu para mim e Dia Nacional da Adoção!!

Sempre me imaginei mãe por adoção, mas nunca considerei a maternidade como uma forma de realização urgente e por isso fui adiando-a. Quando o desejo realmente bateu à porta e o relógio biológico já havia se esgotado, não houve dúvidas sobre a entrada no processo. Na época eu e meu marido morávamos em Brasília. Fui informada a respeito da espera, mas vivê-la foi lidar com a ansiedade, com as incertezas, com a confiança no divino e nos profissionais que nos acompanharam sempre pautados na Política de Proteção Integral à Criança e ao Adolescente. 

Quatro anos se passaram até o dia do aguardado telefonema... foi em 11 de maio de 2017. Quando identifiquei o número da Vara da Infância e Juventude do Distrito Federal, quando a assistente social começou a fazer um resumo da nossa trajetória, pronto, comecei a chorar e tive a certeza que havia chegado a hora!! Tinha que encaminhar as pendências de trabalho e ir para Brasília. Véspera do Dia das Mães, já queria me sentir mãe, mas com medo que a Vara da Infância voltasse atrás, que aparecesse algum impedimento no processo, que estava sonhando!

Imaginava uma criança de 3 anos e chegou Mariana, com toda força e disposição com seus três meses de idade!! Corrida para comprar berço, trocador, banheira, carrinho, roupinhas e tudo mais! Família e amigas me ajudaram muito, nunca havia cuidado de uma criança tão pequena. Digo que o primeiro mês foi de preocupação com o cuidado, tenso. No segundo, comecei a "namorar" com o presente tão precioso que havia recebido! Hoje Mariana está com três anos, e os aprendizados são permanentes. Quando ela faz muita travessura, lembro-me de quanto a desejei e procuro me acalmar, ainda mais em período de isolamento social.

Na última semana, desenhando com Mariana, ela me diz: “mamãe você é pouco boa em (desenhar) animais... Meu pai é muito bom em animais”. Então perguntei no eu era boa. “Mamãe, você é muito boa em cuidar de mim!!”. Só pensei: ufa! em tempos de pandemia é tão bom ouvir isto!

Costuma-se dizer que os filhos por adoção são filhos do coração. Mariana nasceu do desejo, mas digo que é filha, de corpo e alma, pois ter filho exige estar presente com os todos os sentidos, músculos e disposição!!!
 

 

Amor de forma sublimada
*Janice Bastos, juíza da 1ª Vara do Trabalho de Criciúma
 

Selfie da juíza Janice Bastos
Juíza Janice Bastos: "não nasceu de você, mas nasceu para você".


Há mulheres que nascem para gerar e há mulheres que nascem para adotar. Esta frase, que me foi dita por uma psicóloga há quase 20 anos, trouxe o primeiro sinal de que o projeto adotivo poderia fazer parte da minha vida. Naquela época o relógio biológico ainda não me cobrava a atitude materna mas, mesmo assim, a adoção ganhou um espaço e se tornou uma possibilidade futura. Depois de muitos anos, após cumpridos outros projetos pessoais, de uma forma bastante tranquila e natural, transformou-se em realidade. A decisão foi do casal e veio de forma intensa, firme e madura.
 
Adotar é mais do que ter um filho. Significa imergir em um mundo paralelo, até então desconhecido, em que a gestação não é física, mas psicológica e emocional. A barriga não cresce, o enjoo não vem, mas a mente entra em ebulição e os melhores sentimentos afloram. Gestar um filho adotivo é aprender a ter muita paciência e esperar pelo toque do telefone, enquanto se constrói o berço emocional. É acreditar, verdadeiramente, que tudo acontece na hora de Deus e que não são os da consanguinidade os verdadeiros laços de família, e sim os da comunhão, do amor e da dedicação ao outro. Por meio da adoção nos é alcançada a oportunidade de viver o amor de forma sublimada, de evoluir e nos despir de preconceitos. 

Este caminho de construção do núcleo familiar, que é o educandário das almas, traz o desafio da convivência com alguém que não nasceu de você, mas nasceu para você, e principalmente para que se possa perceber que não é a semelhança do cabelo, a cor da pele, dos olhos, ou o jeito de andar que vai nos fazer pais ou mães. É, sim, a capacidade de amar um ser até então estranho, mas que vem para nos permitir viver esta fantástica experiência de aceitar o diferente e o novo e, ao fim, agradecer por ter sido exatamente desta forma.

*A magistrada integra o Cadastro Nacional de Adoção e aguarda o momento de se tornar mãe.

 

 

Texto: Clayton Wosgrau / Arte: CNJ / Fotos: arquivos pessoais
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