“A finalidade do poder é servir. Poder que se serve é um poder que não serve.” A partir dessa concepção, o filósofo Mário Sérgio Cortella, doutor em educação pela PUC/SP, conduziu a palestra de abertura, na quarta-feira (05), do 1º Seminário sobre Modernização da Gestão Pública. O evento do TRT/SC, que terminou nesta quinta-feira (06), foi organizado pelo Serviço de Capacitação e Desenvolvimento (SCD) e aconteceu simultaneamente ao 4º Encontro de Diretores de Secretaria de 1ª Instância da Justiça do Trabalho de Santa Catarina.
Cortella falou durante uma hora e meia sobre “Poder e Competência: Dramas, Tramas e Traumas (a destruição do antigo paradigma)”. Abordou, de forma bem-humorada, questões que costumam orbitar a esfera do exercício do poder, como o conflito, a autoridade, a arrogância e o medo da transformação. O filósofo acredita, por exemplo, que o conflito é algo saudável para quem exerce o poder. “O conflito representa a divergência de posições e é inerente à convivência humana. Ele também é criativo, pois possibilita o crescimento pessoal e evita que as pessoas fiquem prisioneiras do mesmo”, disse o professor.
A legitimidade do poder foi outro ponto discutido por Cortella. Na opinião dele, o poder que emana unicamente da autoridade do cargo não é respeitado. “Um poder inteligente, legítimo, exerce sua autoridade a partir de múltiplos pontos-de-vista”, destacou. Já a arrogância vem à tona, na opinião dele, quando o líder passa a ter certeza sobre tudo, sem dar espaço para a dúvida.
O professor falou também sobre uma postura que costuma caracterizar o serviço público: a síndrome do possível. Cortella entende que existe uma diferença significativa entre fazer o possível e dar o melhor de si. “Nós devemos sempre caminhar com velocidade para fazer o melhor que pudermos e nos desatrelarmos de tudo que for 'possível'. A excelência dever ser vista como um lugar no horizonte que a gente persegue continuamente, porque a satisfação paralisa, adormece, entorpece”. E brincou: “Imagine você sendo encaminhado para uma cirurgia, numa maca, com seu médico ao lado. Aí você pergunta para ele: doutor, vou me sair bem, não vou? Então o médico te responde: vou fazer o possível”.
Gestão Estratégica
A programação do seminário continuou logo após a palestra de Cortella, com o mini-curso “Gestão Estratégica para Resultados no Setor Público”, ministrado por Roberto Bevilacqua Otero, consultor e mestre em Administração Pública pela FGV. Ele explicou que os indicadores de desempenho - economicidade, eficiência, eficácia, efetividade e eqüidade -, que freqüentaram toda a sua abordagem de quatro horas de duração, representam uma contraposição aos aspectos meramente formais, legalistas e burocráticos da administração pública. Para ele, a adoção desses indicadores é que agregam legitimidade para a ação governamental.
Sobre a tendência de adoção da chamada revolução gerencial no setor público, Bevilacqua disse que “esse movimento revela uma preocupação subjacente de se utilizar de modo mais vigoroso alguns mecanismos de gerenciamento como, por exemplo, o planejamento estratégico”. Ele fez questão de ressaltar, porém, que os sistemas, por si só, não garantem nada numa organização, se não houver uma preocupação primordial com o fortalecimento dos servidores. “O servidor é o principal ativo de uma organização”, destacou.
Infantilização
O mini-curso“Modelagem de Processos de Trabalho”, ministrado pela também consultora da FGV, Maria Elisa Bastos Macieira, deu continuidade ao seminário na quinta-feira (06). Modelar um processo de trabalho significa, segundo a consultora, organizar um determinado conjunto de atividades da forma mais harmoniosa e simplificada possível, de modo a se obter os melhores resultados.
Durante aproximadamente oito horas, Maria Elisa falou, entre outras coisas, sobre um dos principais problemas que afetam a administração pública: a falta de comunicação entre os diversos órgãos e, dentro do mesmo órgão, entre as diversas áreas. A consultora, que participou intensamente da reforma do poder judiciário carioca, diz que o serviço público precisa superar obstáculos burocráticos que impedem, muitas vezes, o aproveitamento dos servidores de acordo com suas respectivas aptidões.
Segundo Maria Elisa, “o processo de mudança precisa ser pensado estruturalmente e devidamente disseminado numa organização”. Para ela, bons exemplos, isoladamente, não promovem um modelo estruturado e padronizado de modernização. Referindo-se aos estilos usuais de concentração de poder Maria Elisa foi taxativa: “Quando todos dependem da decisão do chefe, acaba se gerando um processo de infantilização das pessoas e da gestão”, afirmou.
Encerramento
O encerramento do seminário ocorreu no final da tarde de quinta-feira, com a palestra “Não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez”, de Steven Dubner. Coordenador da Associação Desportiva para Deficientes e ex-técnico da seleção brasileira masculina de basquete em cadeira de rodas, Dubner traçou um paralelo entre algumas características do esporte adaptado para deficientes físicos e o desafio dos negócios: estratégia, gerenciamento de dificuldades, superação e trabalho em equipe. “Afinal, nos dias de hoje, precisamos estar aptos a enfrentar desafios, tomar decisões importantes e enxergar oportunidades”, disse Dubner.
Fonte: Ascom - 06.09.07, às 19h30min