'Perícia deve ser capaz de transformar ambiente de trabalho', defende especialista

Evento da Escola Judicial reúne magistrados, membros do Ministério Público e peritos para debater desafios que cercam casos de acidentes e doenças do trabalho

20/08/2015 19h15
Reunião de juízes na escola judicial para debates
Módulo marca reinício das atividades da Escola no segundo semestre

 

O trabalho de juízes, membros do Ministério Público e peritos em casos de acidentes e doenças laborais deve ser usado para aprimorar o ambiente de trabalho das empresas, eliminando riscos e evitando que outros trabalhadores sejam vitimados, defendeu nesta quinta-feira (20) a médica Mônica Angelim Gomes de Lima, palestrante que abriu encontro da Escola Judicial sobre o tema, em Florianópolis.

O evento é o quarto módulo presencial do ano promovido pela Escola e reuniu cerca de cem magistrados, membros do Ministério Público e peritos. Doutora em Saúde Pública pela Universidade Federal da Bahia, Mônica Angelim afirmou que o acúmulo de casos de adoecimento entre trabalhadores exige do poder público e dos profissionais envolvidos novas práticas e abordagens sobre o assunto, deslocando a tradicional ênfase sobre o indivíduo para a análise do ambiente e do contexto laboral.

Mônica Angelim
Mônica Angelim: análise de acidentes deve ter ênfase no ambiente

“Não há como pensar em uma política de reabilitação sem pensar na mudança dos ambientes de trabalho. Do contrário, vamos apenas acumular mais e mais casos de adoecimento”, argumentou a médica. “Por isso, a atuação de médicos e juízes precisa ser vista, cada vez mais, como uma questão de saúde pública”.

Mônica Angelim observou que, embora o trabalho seja fundamental para a construção da identidade do indivíduo, o atual modelo econômico leva o trabalhador ao seu limite físico e mental, favorecendo os milhares de casos de acidentes e afastamento por doença — somente no Brasil são cerca de 700 mil casos por ano. Para ela, o quadro de instabilidade econômica tende a agravar a situação.

“Além da falta de recursos para o tratamento, há também o impacto emocional sobre o trabalhador, que passa a conviver com o medo constante de perder o emprego e uma série de outros problemas”, destacou.

Diálogo

Na abertura do evento, que termina nesta sexta, a desembargadora e diretora da Escola Judicial, Viviane Colucci, fez um balanço positivo sobre o esforço que resultou na construção de diretrizes e enunciados do Programa Trabalho Seguro sobre o tema, publicados este ano após um debate nacional que envolveu todos os 24 TRTs. Para a magistrada, ex-gestora nacional do Programa, os verbetes conseguiram sintetizar um conjunto vasto e complexo de normas, muitas delas desconhecidas pelos profissionais da área.
 
“O Judiciário tem a missão de evitar o retrocesso social, e isso demanda uma postura dinâmica e criativa dos juízes e o constante diálogo com os peritos, cuja atividade é fundamental para as nossas decisões”, disse.

Além de Viviane Colucci, também participaram da abertura do módulo o desembargador Amarildo Carlos de Lima, atual gestor do Trabalho Seguro em Santa Catarina, e o juiz Alexandre Ramos, ex-gestor regional.

 

Desembargadores Viviane Colucci e Amarildo de Lima
Desembargadores Viviane Colucci e Amarildo de Lima: diretora da Escola Judicial destacou esforço do PTS na construção de diretrizes e enunciados sobre perícias

 


 

 

 

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