Especialista diz que não se consegue qualidade de vida no trabalho com “pacotes” de RH

18/10/2013 16h55

A qualidade de vida no trabalho deve ser um preceito em qualquer instituição e concebido sempre sob o ponto de vista do trabalhador. Essa foi a principal orientação do professor e psicólogo do trabalho Mário César Ferreira, da Universidade de Brasília (UnB), na palestra que abriu o último dia do 1º Encontro Institucional da Magistratura do Trabalho de Santa Catarina.

Ferreira fez uma severa crítica aos modelos de consultoria de recursos humanos que vendem “pacotes” de qualidade de vida no trabalho. “Não tenho nada contra o alinhamento energético com pedras quentes”, disse, referindo-se a um dentre uma infinidade de serviços oferecidos. “O problema é que nada disso adianta se, ao sair da ‘terapia’ e retornar ao trabalho, o funcionário sentar numa cadeira desconfortável e digitar sem o apoio dos cotovelos”, contrapôs o pesquisador, que tem pós-doutorado em Ergonomia pela Universidade de Paris.
 

Mário Ferreira, psicólogo do trabalho
Gambiarra: Ferreira mostra caso de servidor público que não conseguia trabalhar com claridade na tela do computador


De acordo com ele, boa parte das “terapias corporativas” serve somente para aumentar a resistência física e mental. “É a chamada resiliência: funcionário bom é aquele que enverga, mas não quebra”, ironiza o psicólogo. Por essa concepção distorcida da gestão organizacional, a variável que precisaria ser ajustada é o ser humano, e não as condições de trabalho ruins, afirma o psicólogo.

Coordenador de um projeto que busca identificar casos positivos e negativos de qualidade de vida no trabalho em organizações públicas, Ferreira já prestou consultoria em diversas instituições públicas. Nessa peregrinação pelo país, se deparou com situações em ambientes de trabalho beirando o absurdo.

Num desses casos, um servidor, para poder trabalhar, montou um aparato com uma cartolina e um pedaço de papelão para evitar que a luz do sol refletisse na tela do computador. “Simplesmente porque ninguém resolvia o problema dele”, conta.

Poder comedido

A palestra de encerramento do evento foi de Renato Janine Ribeiro, filósofo e professor da Universidade de São Paulo, que falou sobre o papel do magistrado na sociedade contemporânea. Em síntese, ele ressaltou que, diferentemente do Legislativo e do Executivo, o Judiciário é um Poder sem poder de escolhas, restando a ele garantir o cumprimento da Constituição Federal.
 

Renato Janine Ribeiro
Juiz deve exercer seu poder com grandeza e comedimento


Ainda de acordo com o filósofo, por ser detentor de um poder quase “supremo, irreversível”, que dá a última palavra sobre diversos conflitos na sociedade civil organizada, o juiz deve exercê-lo com grandeza e, ao mesmo tempo, comedimento.

Evento inédito

O 1º Encontro Institucional da Magistratura, que começou na segunda-feira (14) e encerrou nesta sexta (18), reuniu magistrados de primeiro e segundo graus para reflexões e debates durante cinco dias, em Florianópolis.

Foi a primeira vez que o TRT-SC organizou um evento combinando, numa mesma programação, temas relacionados à prática diária dos magistrados com assuntos de natureza institucional.

No encerramento, a presidente do TRT-SC, desembargadora Gisele Pereira Alexandrino, agradeceu a presença dos magistrados e disse que o evento deverá ser continuamente aperfeiçoado, com a colaboração e sugestões de todos.

 

Fonte: Assessoria de Comunicação Social - TRT-SC
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