Sororidade e independência: três personagens do TRT-12 falam sobre a experiência de ser mulher

No Dia Internacional delas, conversamos com uma juíza, uma servidora e uma trabalhadora terceirizada sobre vida, carreira, família e outros temas

07/03/2022 17h44, atualizada em 11/03/2022 17h15
Simone Dalcin

“Acho que nós, mulheres, temos que ajudar umas às outras, sempre. Não tem essa de falar mal, de querer puxar o tapete. A gente tem que se cuidar”. A afirmação é de Edna Marin do Carmo, uma mulher de quase 50 anos que trabalha como assistente de limpeza no Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região (SC) e pode ser encontrada nos corredores da sede logo de manhã cedinho. 

Apesar do sorriso sempre no rosto, atualmente revelado apenas pelos olhos, Edinha, como é chamada, não teve vida fácil. Logo ao nascer a recifense foi abandonada pela mãe, e o pai a deixou com a irmã em um orfanato, onde viveram por três anos. Foram então adotadas pela prima do pai e puderam crescer junto a um irmão de criação. Foi para acompanhá-lo que a família se mudou para Florianópolis, há 33 anos, após ser aprovado em um concurso na carreira militar. 

Ela fala com orgulho de seu irmão que pôde estudar, privilégio que não teve - faltou pouco para concluir o segundo grau. Desde o início da vida adulta, há 30 anos, ela trabalha para garantir seu sustento. Já foi atendente de farmácia, de loja, auxiliar de cozinha e há alguns anos trabalha com limpeza. 

“Sempre precisei batalhar pelas minhas coisas, nunca ganhei nada de mão beijada. E gosto disso. Se um dia eu perder o emprego, logo vou arrumar outro. Porque eu sempre corri atrás do que precisei. Em todo lugar que trabalhei, fiz o meu melhor e, quando não sabia como fazer, fui atrás para aprender”, orgulha-se a trabalhadora, que há cerca de ano e meio conquistou a primeira casa própria, paga todo mês com muito esforço. 

Nas horas vagas, gosta de caminhar e andar de bicicleta. Esse estilo de vida, garante, foi o que a ajudou a vencer um problema de saúde na mama, em 2014. Casada há quase três décadas, Edinha e o marido não tiveram filhos - perderam um na gravidez, “pois Deus quis assim”. Mas ela se conforma e diz que nasceu para cuidar dos outros, como “das meninas”, suas colegas de trabalho. 

“Gosto de levantar o astral das pessoas, cuidar, oferecer um chazinho, um ombro amigo. Minhas amigas falam que sou meio farmacêutica, meio psicóloga. Acho que o ser humano tem que cuidar um do outro, principalmente as mulheres. Problemas todo mundo tem, mas devemos sempre procurar o lado bom das coisas e das pessoas. Fazer o bem sem olhar a quem”, ensina. 

 

Uma mulher de cabelos negros, camiseta branca e calça jeans, sorridente, posa ao lado da placa de inauguração do prédio do TRT-SC
Edinha: "Se um dia eu perder o emprego, logo vou arrumar outro. Porque eu sempre corri atrás do que precisei".

 

Incentivo de casa

Um mulher de pele clara e cabelos negros e longos, com roupa bege e branca, ao lado de uma tela fazendo uma apresentação
Tamilly: do primeiro lugar no concurso à coordenação do Laboratório de Inovação​​​​​​

Assim como Edinha, a servidora Tamilly Virissimo sempre gostou de ir atrás das conquistas. Aproveitou as oportunidades que teve e o incentivo da família, principalmente da mãe, para dedicar-se aos estudos. “Ela viu que eu gostava de estudar, muito mais que meus dois irmãos, e sempre apoiou que eu fosse buscar minha independência financeira”, conta a servidora, que viu os frutos da sua dedicação: foi aprovada em primeiro lugar no concurso público para o cargo de analista administrativo do Tribunal, em 2013.

Mesmo após a conquista, Tamilly está sempre buscando ampliar seus conhecimentos. Já fez duas especializações, um mestrado e atualmente está no doutorado, estudando o tema da inovação no Poder Judiciário. Por conta da pesquisa, mudou de área no Tribunal (estava há nove anos na Gestão de Pessoas) e vai encarar o desafio de tocar o LiodsTRT12, o Laboratório de Inovação, Inteligência e Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, vinculado à Secretaria de Gestão Estratégica. 

Se a mãe a incentivou aos estudos, o pai fez questão de garantir outro tipo de independência: a autonomia para fazer as coisas sozinha, sem precisar pedir ajuda a ninguém. Seja para resolver os problemas, seja para literalmente colocar a mão na massa. Com casamento marcado para abril, Tamilly está trabalhando pesado na construção de sua nova casa: rebocou algumas paredes e construiu a bancada de concreto da cozinha. 

“Ele sempre achou importante que eu soubesse fazer as coisas por conta própria, da mesma forma que meu irmãos homens. Este tipo de autonomia é bastante valorizada por ele, que fica muito orgulhoso em ver que eu aprendi a usar as máquinas direitinho. Acho que até mais do que quando eu fui aprovada no concurso”, diz a servidora. Ela só lamenta não ter sido estimulada a aprender a fazer os serviços domésticos, mas para essa tarefa vai contar com o futuro marido, com quem mora há quatro anos. “Eu e ele gastamos o mesmo tempo de dedicação para a casa”, garante. 

Produtividade e presença

Uma mulher com duas crianças ao lado posam para uma selfie registrada por um homem, que aparece no canto da tela
Juíza Lisiane: tempo gasto nas tarefas domésticas e no cuidado com os filhos é dividido com o marido

Assim como Tamilly, a juíza Lisiane Vieira, da Vara do Trabalho de Joaçaba, divide com o marido o tempo gasto nas tarefas domésticas e no cuidado com os filhos. Ela conta que durante a pandemia, foi ele, autônomo, quem mais se prejudicou no trabalho, pois precisava cuidar do filho Lucas, autista, enquanto ela fazia audiências.  

Com 20 anos de carreira, a magistrada consegue o almejado equilíbrio entre família e trabalho. Figura entre as juízas mais produtivas do estado: em 2021, solucionou 723 processos na fase de conhecimento, sendo a média estadual, 563. Ainda é gestora auxiliar dos programas de Combate ao Trabalho Infantil e Estímulo à Aprendizagem e Trabalho Seguro - sua atuação em uma das regiões com maior número de acidentes de trabalho, por conta dos frigoríficos, tornou-a referência no tema. 

Ela conta que sua aptidão para o trabalho veio de casa, onde desde sempre recebeu dos pais exemplo e estímulo para estudar e tornar-se independente. 

“O primeiro homem feminista que conheci foi o meu pai. Ele dizia que o maior seguro que poderia deixar para os filhos era ter uma mulher bem instruída; então, fez questão que a minha mãe também tivesse uma carreira profissional, como ele. Sempre acreditou que o sucesso do casal dependia da independência da mulher e do reconhecimento que ela é uma pessoa única, com seus interesses e um espaço só dela”, recorda. 

Se a mulher já conquistou seu lugar no mercado de trabalho, a magistrada acredita que agora chegou a hora de ocupar também na política. "Acredito que ela vai chegar devagarinho, sem fazer muito barulho, e conquistar também este espaço. Tenho ouvido de mulheres de várias classes sociais e diferentes graus de instrução o desejo de eleger mulheres, desde que estejam bem preparadas. Vejo nomes excelentes surgindo, o que indica que mais mulheres serão sim eleitas", aposta Lisiane Vieira. O mundo para elas é o limite. 

 

Texto: Camila Velloso / Arte: Simone Dalcin 
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