Após exibição, ocorreu um momento de debate com o cineasta Renato Barbieri sobre as formas contemporâneas de escravidão
A Escola Judicial (Ejud) do TRT-SC, em parceria com o Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal no Estado de Santa Catarina (Sintrajusc), realizou o 1º Encontro de Direito e Cinema no Centro Integrado de Cultura (CIC) nesta quinta-feira (1/08). Para a estreia, foi exibido o documentário “Servidão”, com a presença do diretor Renato Barbieri, o mesmo de Pureza (link externo). A entrada foi gratuita e aberta ao público.
O documentário revela que, apesar da assinatura da Lei Áurea em 1888, cerca de 369 mil brasileiros ainda vivem em condições de trabalho análogas à escravidão. A produção, dirigida por Barbieri e Neto Borges, traz depoimentos de abolicionistas contemporâneos e trabalhadores rurais que foram vítimas da escravidão moderna, investigando uma sociedade que, há cinco séculos, continua a subjugar a mesma categoria de pessoas.
Embora o trabalho escravo seja um crime previsto no Código Penal Brasileiro, o regime de servidão persiste em várias regiões do país, especialmente na Amazônia.
Debate sobre o tema
Após a exibição, um debate foi mediado pela diretora da Ejud12, desembargadora Quézia de Araújo Duarte Nieves Gonzalez, e pela juíza Ângela Konrath, coordenadora do Programa de Enfrentamento ao Trabalho Escravo, Tráfico de Pessoas e Proteção ao Trabalho do Migrante em Santa Catarina (Pete+).
Adailton Pires Costa, servidor do TRT-SC e um dos coordenadores do Sintrajusc, destacou a importância de reconhecer a presença histórica e contemporânea da escravidão em Santa Catarina. “Muitas vezes, quem mora em Florianópolis acredita que essa dimensão do tráfico de escravos é reservada somente à região do Rio de Janeiro ou outros lugares. Mas aqui temos nossos ‘cais do Valongo’ (link externo), como os extintos trapiches da Rua Trajano e o da Alfândega, onde vários escravos desembarcaram. Precisamos pesquisar essas realidades para que elas não continuem se repetindo, como temos visto.”
Preservar a memória
O cineasta Renato Barbieri também enfatizou a importância do cinema na preservação da memória histórica. “A gente faz cinema para promover o movimento contra o esquecimento da história. Quem não tem história não tem valor. Muita gente pensa que a escravidão acabou em 13 de maio de 1888. O que muitos não sabem é que a escravidão, em sua forma contemporânea, começou no dia seguinte, 14 de maio de 1888. Ou seja, o Brasil nunca teve um dia sequer como nação livre. Conhecemos muito pouco das nuances do movimento da Independência e do abolicionismo, e o cinema vem para elucidar essas verdades que muitas vezes a escola não mostra, gerando uma nova percepção da consciência da nossa história”, refletiu.
Texto: Andréa Gonçalves (estagiária)
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