Mestra em língua portuguesa explicou como a linguagem atua na reprodução de preconceitos contra pessoas com deficiência
O Subcomitê de Acessibilidade e Inclusão do TRT-SC, em parceria com a Escola Judicial, promoveu na segunda-feira (23/9) a palestra “Inclusão na ponta da língua: práticas de comunicação não capacitista”, que aconteceu no auditório do tribunal e teve transmissão pelo YouTube. A iniciatva integra o Setembro Inclusivo, conjunto de ações realizadas pelo TRT-SC no mês de conscientização sobre acessibilidade e inclusão das pessoas com deficiência.
A palestra foi proferida pela professora Maria Gabriela Abreu, mestra em língua portuguesa e doutoranda em linguística pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Em linhas gerais, ela explicou como o capacitismo se manifesta em expressões do dia a dia. Conceitualmente, segundo ela, o capacitismo é a materialização de atitudes preconceituosas que classificam as pessoas em função da adequação de seus corpos a um ideal de beleza e de capacidade funcional.
A professora iniciou relatando algumas experiências pelas quais passou em decorrência de sua perda auditiva, explicando que não são só as palavras e termos, por si só, que podem trazer uma conotação negativa a algo, mas também o contexto. Perguntar se uma pessoa é surda, em tom depreciativo, ou repetir uma frase gritando foram alguns exemplos citados por ela.
Três discursos
Maria Abreu apresentou uma série de palavras usadas para se referir a pessoas com deficiência de forma pejorativa, como “retardado”, “capenga” e “mongol”, por exemplo. Outros termos, segundo ela, são usados para tentar suavizar a condição da pessoa, como “excepcional” e “especial”. “O fato é que ninguém deveria se sentir mal por ser da forma como é, pois a deficiência é constituinte da própria condição humana”, explicou.
O capacitismo, segundo ela, manifesta-se também por meio de outros três discursos: o do humor, o da superação e o da infantilização. “A pessoa está simplesmente tocando sua vida e é tratada como heroína, como se aquilo que ela faz fosse algo do outro mundo. Não façam isso”, alertou Maria Abreu.
Outro ponto de atenção é em relação aos apelidos. “Ceguinho e mudinho, apesar de parecerem afetivos, rotualm e reduzem a pessoa à sua deficiência”, reforçou.
Coral em Libras
Antes da palestra, o coral da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc) apresentou em português e língua brasileira de sinais (Libras) as músicas Certos Amigos, da banda Expresso Rural, e Iluminado, de Djavan.
Na sequência, a coordenadora do Subcomitê de Acessibilidade e Inclusão, juíza do trabalho Maria Aparecida Jerônimo, entregou ao presidente do tribunal, desembargador Amarildo Carlos de Lima, o Censo de Acessibilidade 2023/2024, que teve seus resultados brevemente apresentados.
“Realmente ainda temos muito dentro de nós uma espécie de ‘capacitismo estrutural’, assim como o machismo e o racismo. Então é preciso que procuremos falar do assunto, esse tema precisa ser abordado constantemente”, reforçou a magistrada.
Texto: Gabriel Alexandre Elias (estagiário)
Secretaria de Comunicação Social
Divisão de Redação, Criação e Assessoria de Imprensa
(48) 3216-4303 / 4320 - secom@trt12.jus.br