Como presidente do TRT-SC, Gracio Petrone enfrentou uma das maiores crises orçamentárias da JT

Amigos falam sobre a personalidade marcante do desembargador, que morreu na quarta-feira (17/9)

17/09/2025 16h42, atualizada em 19/09/2025 16h09
Adriano Ebenriter

O Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região (TRT-SC) perdeu na quarta-feira (17/9) uma de suas principais referências de personalidade e conhecimento jurídico. Morreu em Tubarão, aos 64 anos, o desembargador e ex-presidente do órgão Gracio Ricardo Barboza Petrone, vítima de um câncer em estágio avançado. O presidente do TRT-SC, desembargador Amarildo Carlos de Lima, decretou luto oficial por três dias. O presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST) e do Conselho Superior da JT (CSJT), ministro Aloysio Corrêa da Veiga, também emitiu nota de pesar pelo falecimento do magistrado. 

Com 36 anos de magistratura trabalhista, Gracio Petrone foi presidente, corregedor e diretor da Escola Judicial do TRT-SC, além de membro do Conselho Superior da Justiça do Trabalho por um ano. Estudioso, além de direito era graduado em psicologia e possuía duas especializações (Teoria e Análise Econômica e Dogmática Jurídica) e um mestrado, com área de concentração em Fundamentos do Direito Positivo.

Foto de um ato público na rua com dezenas de pessoas
Ato público de 2016 reuniu cerca de 200 pessoas na rampa do TRT-SC, entre servidores, magistrados, advogados, procuradores do trabalho e dirigentes sindicais. Foto: Adriano Ebenriter


 

Gestão desafiadora


A personalidade forte era uma marca do magistrado. Sem meias palavras, dizia exatamente o que pensava de forma reta, sem atalhos. E foi com essa coragem que, como presidente do TRT-SC, enfrentou em 2016 um dos maiores cortes orçamentários da história do Judiciário Trabalhista. A redução foi da ordem de 30% nos recursos destinados a despesas de manutenção, como água, energia elétrica e contratos diversos, e 90% nos investimentos.

Gracio Petrone, então, mobilizou servidores, magistrados e comunidade jurídica para tentar reverter a situação: promoveu um ato público na rampa do tribunal, deu inúmeras entrevistas à imprensa, criou uma campanha de contenção de gastos, entre outras medidas para que o órgão continuasse funcionando.

Confira uma das entrevistas concedidas à época pelo desembargador Gracio Petrone

Apesar do aperto orçamentário, Petrone não abdicou de cumprir aquela que seria sua principal meta como presidente, declarada durante o discurso de posse, em dezembro de 2015: reduzir o prazo médio de duração dos processos no primeiro grau. E assim foi feito, passando de 242 para 217 dias ao final de sua gestão.

Tal proeza foi registrada pelo relatório Justiça em Números de 2017, que posicionou o TRT-SC na quarta colocação geral em produtividade de seus magistrados, entre todos os tribunais trabalhistas. Também foi Gracio Petrone quem implantou o Centro de Conciliação de 2º Grau, no final de 2016, e inaugurou a sede própria do Fórum Trabalhista de São José.

No âmbito interno, também deixou legados. Implantou, pela primeira vez, o regime de teletrabalho no TRT-SC, firmou convênio odontológico para o público interno com o Serviço Social da Indústria e criou o primeiro programa de incentivo à inovação (Eureka!).

“Perdemos uma pessoa espontânea, sincera e que deixará um grande vazio — não apenas pelo conhecimento jurídico, mas também pelo senso coletivo de participação. Sua partida tão precoce e rápida nos entristece profundamente e reforça o quanto era querido por todos do tribunal e da sociedade catarinense." Amarildo Carlos de Lima, presidente do TRT-SC.
 

“Era fácil trabalhar com ele”
 

Foto de um homem de terno e gravata e uma mulher sorrindo, lado a lado
Com a assessora Lauren Gavioli, no jantar comemorativo à sua posse como presidente. Foto: arquivo pessoal de Lauren Gavioli

Uma das pessoas mais próximas do desembargador no TRT-SC foi a servidora Lauren Gavioli, assessora em seu gabinete por 16 anos. Ela resume a personalidade do magistrado: “Inteligente e rápido. Objetivo e turrão. Engraçado e tímido. Assim era o Dr. Gracio. Era fácil trabalhar com ele. Exigente, mas tranquilo. Formou uma equipe muito coesa com pessoas especiais que ficaram. Ser sua assessora por tanto tempo foi um marco na minha vida profissional. Tenho orgulho do que fizemos juntos e dos desafios que enfrentamos. Vou sentir falta das nossas trocas”, lamentou.

Foto de um homem e três mulheres, sentados e sorrindo
Com as filhas Pietra, Laura e Amanda, em momento de descontração. Foto: arquivo familiar

Divorciado, Gracio Petrone tinha uma relação muito próxima com suas três filhas: Pietra, Laura e Amanda. Em mensagem enviada à Secom, contam que o pai amava a vida e transmitiu a elas o desejo de viver intensamente. “Nesse momento de despedida, o que fica são as boas lembranças. Com ele aprendemos o valor dos amigos, das viagens, dos estudos e principalmente da família. Herdamos a teimosia, mas também as brincadeiras. Levaremos o espírito leve e ao mesmo tempo forte para todos os lugares onde formos”, escreveram.
 

“Coração grande”


A expressão sisuda era apenas uma casca que se quebrava na primeira piada ou brincadeira, expandindo-se para um sorriso que, não raras vezes, terminava em gargalhadas. “Falar do desembargador Gracio seria muito fácil em qualquer outro momento. Hoje, dói muito. No primeiro contato, pela aparência, ele passava a impressão enganosa de uma pessoa séria e dura. Mas por trás da aparência, estava o Gracio real, uma típica pessoa de coração grande, sensível, amiga e muito divertida. Fui sua vice. E asseguro que foi um gestor sério, transparente, que colocava a Instituição em primeiro lugar”, define a desembargadora Mari Eleda Migliorini, parceira de gestão. 
 

Foto de um homem no centro de duas mulheres. Os três estão usando toga e sorrindo
Gracio entre as desembargadoras Lourdes Leiria (e) e Mari Eleda, parceiras de gestão no biênio 2016/17. Foto: Adriano Ebenriter

 

 

"Ele levou um pedação da nossa história"


“Era o cara da alegria, da irreverência, sempre fazendo graça com alguma coisa”, diz o corregedor do TRT-SC, desembargador Narbal Fileti, amigo há 36 anos. Eles se conheceram em 1989, ano em que Gracio tomou posse como magistrado e foi atuar na então Junta de Conciliação e Julgamento de Tubarão, onde Fileti era servidor e acabou se tornando seu assistente por alguns anos.

“Com a ajuda dele, com seus ensinamentos e empréstimo dos resumos das matérias do concurso, cheguei à magistratura”, conta. A partir daí, a amizade se intensificou: Gracio foi padrinho de casamento de Narbal, esteve na formatura dele e participou de suas posses como juiz, desembargador e corregedor. E ambos ainda foram professores no curso de Direito da Unisul. Sem falar nos momentos festivos familiares, como o nascimento da primeira filha de Narbal, Eduarda, e o batizado do outro filho, Otávio.

“Gracio foi um cara de opiniões fortes, às vezes um verdadeiro “cabeça dura”, um “menino-grande”. Justo, ético e leal, tinha profundo compromisso com a função de julgar e com a Justiça do Trabalho”, avalia o corregedor.

“Dizem que cada amigo que parte leva consigo um pedaço de nossa história. Gracio levou um pedação da nossa história, de uma amizade de quase 40  anos. Já estamos sentindo saudades dele”, conclui Narbal Fileti.

Uma mulher vestida com traje de gala e dois homens de terno posam para a foto, todos sorrindo
Com o desembargador Narbal Fileti e a mentora intelectual de ambos, 
 desembargadora aposentada Ligia Maria Teixeira Gouvêa. Foto: arquivo pessoal de Narbal Fileti

A missa de Sétimo Dia será na terça-feira (23/9), às 18h15, na Igreja do Colégio Catarinense (Rua Esteves Júnior, 711).

 

Texto: Clayton Wosgrau 
Secretaria de Comunicação Social  
Divisão de Redação, Criação e Assessoria de Imprensa 
(48) 3216-4000 - secom@trt12.jus.br 

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