Reforma trabalhista tornou processo mais rápido, mas reduziu acesso à Justiça, afirma juíza italiana

29/09/2017 18h50
Juíza Zelaide e Tiziana Orrù
Tiziana Orrù (d), observada pela juíza do TRT-SC Zelaide Philippi: mudança nas sentenças italianas para acelerar tramitação


Também palestrante no último dia do 3º Módulo de Estudos da Escola Judicial, a juíza do trabalho italiana Tiziana Orrù, do Tribunal de Apelação de Roma, falou sobre as reformas implementadas em seu país em 2010 e 2012 para tornar o processo trabalhista mais célere. Entre elas, o fim do acesso gratuito ao Judiciário, a demissão por motivos econômicos (antes o trabalhador poderia requerer sua reintegração na Justiça) e a simplificação das decisões judiciais.

A juíza italiana disse que as mudanças deram resultados no tocante à celeridade, mas inevitavelmente reduziu o acesso à Justiça, principalmente em razão do fim da gratuidade. “Hoje julgamos basicamente casos sobre demissões, pois o custo para acessar o Judiciário deixou de ser compensador para quem tem uma ação cujo valor seja pequeno”, disse a magistrada.

Sobre este último ponto, por exemplo, o relatório narrativo do processo foi dispensado na elaboração da sentença, que passou a conter apenas o dispositivo (a parte final da decisão, em que são especificadas as condenações) e a fundamentação, ou seja, os motivos que levaram à condenação ou à absolvição.

Com um detalhe: a sentença passou a ser obrigatoriamente lida pelo juiz durante a audiência, com a execução (cobrança da dívida) imediata. “Com esta mudança, os juízes foram 'convidados' a sintetizar suas decisões, pois uma coisa é ler uma decisão de três páginas, outra, uma de 20”, comparou.

Tiziana Orrù explicou que as alterações para acelerar o andamento dos processos foram motivadas por uma drástica ampliação da competência da Justiça do Trabalho italiana, ocorrida em 1998. Naquele ano, os processos movidos por servidores públicos passaram a ser julgados pelos juízes do trabalho. “De uma hora para outra, os juízes passaram a ter que julgar de 2 mil a 2,5 mil processos por ano, quando antes a média era em torno de 500”, recorda.
 

capa de álbum de fotos escola judicial

 

 

 

 

 

Texto e fotos: Clayton Wosgrau
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