"Não falar de racismo é uma forma de mantê-lo presente na sociedade", alerta pesquisador

Afirmação foi feita durante palestra do professor Gerson Cardoso Júnior (UFBA) no último módulo de formação da Escola Judicial de 2025, encerrado na quinta (13/11)

14/11/2025 13h41, atualizada em 14/11/2025 15h01
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“Não falar de racismo é uma forma de mantê-lo presente na sociedade.” A afirmação é do professor e pesquisador Gerson Conceição Cardoso Júnior, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e foi feita nesta quinta-feira (13/11) durante o 4º Módulo de Formação Continuada da Escola Judicial do TRT-SC (Ejud-12).

A palestra “O que é ser antirracista” foi uma das atividades que marcou a programação de encerramento do ano letivo da Ejud-12, que reuniu cerca de 150 participantes presenciais e on-line ao longo de dois dias.
 

Confira o álbum de fotos do último módulo de 2025


A juíza Andrea Maria Limongi Pasold, coordenadora do Comitê Gestor Regional do Programa de Equidade de Raça, Gênero e Diversidade do TRT-SC, conduziu a exposição. Ao abrir o encontro, destacou a importância de discutir o tema ao longo de todo o ano. “Não devemos falar sobre isso apenas em novembro. Esse é um debate permanente”, afirmou.

Logo no início, o professor convidou o público a refletir sobre o significado de ser antirracista. As respostas de magistrados e servidores apontaram para a necessidade de letramento racial, de enfrentamento a discursos opressores e de atuação ativa diante de situações de discriminação. 

A partir dessas percepções, Gerson Cardoso apresentou elementos históricos que moldaram a sociedade brasileira, ressaltando os efeitos duradouros do colonialismo e da “colonialidade do poder”, que mantém padrões hierárquicos mesmo após o fim das administrações coloniais.

Ao tratar do papel das instituições, o palestrante destacou que a legislação brasileira, durante séculos, reforçou desigualdades raciais. Mencionou normas como a Lei do Ventre Livre, a Lei do Sexagenário, a Lei de Terras e o Código Criminal de 1890, que contribuíram para a vulnerabilidade e exclusão de pessoas negras após a abolição.

A estrutura social resultante, observou, “posiciona a branquitude em vantagem educacional e econômica” — cenário que demonstra a importância das políticas de ação afirmativa, como as cotas raciais. 

Na sequência, apresentou dados que reforçam a persistência das desigualdades, como a desproporção de pessoas negras entre as vítimas de letalidade policial - em 2024, a cada 24 horas, das 4.068 pessoas mortas, 3.066 eram negras - e a diferença salarial entre trabalhadores brancos, pretos e pardos. 

Segundo ele, após análise de 80 decisões da Justiça do Trabalho baiana, apenas duas mencionavam perspectiva racial, dado que reforça a necessidade de uso efetivo dos protocolos do CNJ para julgamentos com perspectiva de gênero e racial.
 

Emoção na abertura


Durante a abertura do evento, na quarta-feira (12/12), a vice-presidente do TRT-SC e diretora da Escola Judicial durante o biênio 2024-2025, desembargadora Quézia de Araújo Gonzalez, fez um discurso em tom de despedida e agradecimento.

Com voz embargada pela emoção, a magistrada lembrou que o módulo final simboliza o encerramento de um ciclo. “Ao olhar para o caminho percorrido, três palavras traduzem o que sinto: alegria, gratidão e serenidade”, afirmou. A desembargadora agradeceu à equipe da Escola, às magistradas que compuseram a direção e aos servidores que atuaram ao longo dos dois anos, reforçando que “nada se realiza de forma isolada”.

Quézia concluiu o discurso desejando êxito à próxima gestão da Ejud-12, que será conduzida pela desembargadora Mirna Bertoldi, atual ouvidora do TRT-SC.

Quatro mulheres e dois homens compõem uma mesa de abertura de evento
Magistrados na mesa de abertura, a partir da esquerda: Ângela Konrath, Narbal Fileti, Amarildo de Lima, 
Quézia Gonzalez, Mirna Bertoldi e Maria Beatriz Gubert. Foto: Alessandro Pereira (Gutvision)

 


Transição e continuidade


A futura diretora da Escola destacou a importância da colaboração e da troca de experiências nesse período de transição.

“A desembargadora Quézia tem sido incansável em compartilhar informações, experiências e orientações, não apenas sobre a Escola, mas também sobre as atribuições da vice-presidência”, afirmou Mirna Bertoldi.

Ela lembrou que a Ejud-12 completou 20 anos em 2025, consolidando-se como “um espaço de formação, reflexão e fortalecimento institucional”. Para ela, o módulo final simboliza “um momento de celebração do aprendizado coletivo e da renovação do compromisso com uma Justiça do Trabalho mais humana e transformadora”.

O presidente do TRT-SC, desembargador Amarildo Carlos de Lima, também se pronunciou, elogiando a condução do biênio e reforçando o caráter cíclico das gestões. “A vida é assim, uns vão, outros vêm, e que bom que podemos ter força para continuar. A Escola esteve, está e continuará em boas mãos, assim como toda a gestão deste Tribunal”, afirmou.

Também se pronunciaram na abertura do evento as juízas Maria Beatriz Vieira da Silva Gubert, coordenadora pedagógica da Ejud-12; e Ângela Maria Konrath, vice-diretora; além do corregedor regional, Narbal Antônio de Mendonça Fileti.
 

Programação
 

O 4º Módulo contou ainda com outras cinco atividades. Na quarta-feira, a palestra de abertura tratou de propósito, trabalho e alegria de viver e, na sequência, houve uma exposição das servidoras Camila Abreu e Daniele de Oliveira, respectivamente, diretora de Comunicação Social e chefe do Núcleo de Audiovisual e Mídias Digitais. 

Na manhã de quinta, o desembargador Reinaldo de Moraes, o juiz Luis Fernando de Carvalho e as juízas Michelle Destri e Adriana de Camargo ministraram uma oficina prática sobre precedentes. À tarde, houve duas outras palestras: "Protocolo para atuação e julgamento com perspectiva do trabalho escravo contemporâneo e suas relações com a Agenda 2030 da ONU e com as convenções fundamentais da OIT", ministrada pela juíza do TRT-PE Luciana Paula Conforti; e "Sociedade do desempenho e do cansaço no contexto das relações laborais", apresentada pelo professor da UERJ, José Ricardo Ferreira Cunha.
 
 

Print de tela mostrando 42 pessoas em uma vídeo conferência
Segundo dia da programação ocorreu de forma on-line

 

 



Texto: Priscila Tavares e Carlos Nogueira
Secretaria de Comunicação Social
Divisão de Redação, Criação e Assessoria de Imprensa 
(48) 3216-4000 - secom@trt12.jus.br 
 

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