Indústria têxtil do Brasil pede na OIT ação contra dumping social

26/09/2014 17h34

A indústria têxtil brasileira defendeu na Organização Internacional do Trabalho (OIT) recomendações firmes da entidade para evitar o dumping social no comércio internacional, principalmente por grandes produtores como a China, do setor que alcança US$ 700 bilhões por ano.

Fernando Pimentel, diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), admitiu no Fórum Global de Diálogo sobre têxteis, confecções, couro e calçados as diferenças no desenvolvimento de países produtores, mas insistiu que regras básicas sobre condições de trabalho e salários precisam ser seguidas por todos.

“Não se pode exigir a mesma coisa de Bangladesh, mas não se pode perder mercado para países com condições medievais (de trabalho) e tem que haver progressão”, afirmou. “Há que se respeitar as diferenças de economias, mas é preciso que gigantes como China e Índia sigam toda essa base regulatória.”

O executivo brasileiro lembrou que a China sozinha produz metade da oferta mundial de têxteis e detém 30% do comércio global. E agora parte de seus produtores está transferindo fábricas para outros países ainda mais baratos, como Vietnã.

A negociação tripartite, entre governos, empregadores e empregados, na OIT, envolveu recomendações para reforçar a aplicação de regras de trabalho, salários e horas extras, fortalecer negociações coletivas e ampliar o pagamento para mulheres, que são predominantes na área de confecções.

Para Fernando Pimentel, o Brasil está com padrões acima de outros países. Exemplificou que o máximo de hora extra por dia é de duas horas, com pagamento adicional de 20%. E a hora noturna no Brasil é de 53 minutos.

Mas vários países, grandes produtores, mesmo com compromissos internacionais não respeitariam um comércio leal. Para Pimentel, é especialmente importante que a OIT examine junto com a Organização Mundial do Comércio (OMC) as condições de trabalho na indústria têxtil e o impacto no comércio global.

“Às vezes, países não ratificam (as regras da OIT) ou ratificam mas não praticam. Um terço da produção é comercializada no mercado mundial. Há oferta excessiva e cadeias globais de valor comandadas pelo grande varejo. O comando do mercado (de têxteis e confecções) se dá na ponta e não na indústria, como há vinte anos”, afirmou o executivo, apontando a situação da indústria.

A OIT divulgará nos próximos dias um texto consensual de recomendações, mas cada país acaba agindo como quer. Existe a esperança de a pressão internacional funcionar de algum modo, pelo menos sinalizando que as práticas de cada um vêm sendo monitoradas e que o consumidor está cada vez mais atento ao modo de produção.

 

 

Fonte: Valor Econômico

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