No dia de lembrar as vítimas de acidentes de acidentes de trabalho em todo o mundo, o gestor do Programa Trabalho Seguro em Santa Catarina, desembargador Roberto Guglielmetto, faz um alerta para quem trabalha em casa. Leia abaixo:
Os cuidados com o home office
Em 1969, a explosão de uma mina nos Estados Unidos causou a morte de 78 trabalhadores. O fato ocorreu em 28 de abril, que passou a ser reconhecido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) como o Dia Mundial em Memória às Vítimas de Acidentes de Trabalho.
Nesta data, portanto, além de nos solidarizarmos com as famílias dos quase 400 mil brasileiros vítimas da covid-19, é necessário prestarmos uma homenagem aos profissionais de saúde, que vêm enfrentando jornadas exaustivas para evitar ainda mais mortes. E a batalha tem sido dura: segundo dados dos conselhos federais de Medicina e Enfermagem, de março de 2020 a março de 2021, 624 médicos e 689 profissionais de enfermagem já perderam a vida para o novo coronavírus.
Além da difícil realidade vivenciada na área de saúde, um fenômeno que se consolidou em meio à pandemia foi o home office. Não obstante seus benefícios, como a maior proximidade da família e o tempo ganho longe do trânsito, trabalhar em casa trouxe a reboque alguns problemas no tocante à saúde dos empregados.
Dois tipos de adoecimento têm chamado a atenção: os mentais e os osteomusculares. Os primeiros, segundo especialistas, decorrem do isolamento social e da sobrecarga de trabalho em casa, principalmente nos cargos gerenciais. As doenças osteomusculares, por sua vez, estão relacionadas a postos de trabalho improvisados, típicos do home office.
De acordo com dados da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, a concessão de auxílio-doença devido a transtornos mentais e comportamentais, como depressão e ansiedade, bateu recorde em 2020, com 285,2 mil afastamentos, uma alta de 33,7% em relação a 2019. Para se ter uma ideia, o aumento anterior (2019/2018) havia sido de apenas 2,03%.
No ranking de doenças que deram causa ao benefício, esse tipo de transtorno ficou na primeira colocação. Superou inclusive os problemas osteomusculares ou do tecido conjuntivo, como dores na coluna, artroses, lesão por esforço repetitivo (LER) e gota, que também cresceram bastante (28%) e ficaram na segunda colocação.
Como prevenir?
Embora não seja possível estabelecer uma conexão direta desses adoecimentos com o trabalho, é sintomático que eles tenham aumentado justamente no ano em que um exército de brasileiros passou a trabalhar em casa. Então, não custa nada adotar algumas medidas de prevenção.
Para tornar o isolamento social menos árduo, uma das orientações para quem trabalha em casa é manter ativa a rede socioafetiva, estabelecendo contato, mesmo que virtual, com familiares, amigos e colegas. Cuidar do corpo mantendo uma rotina de exercícios também continua valendo, com ou sem pandemia.
Em relação aos problemas osteomusculares, a equipe de fisioterapia do TRT-SC costuma recomendar o tripé básico da boa postura: pés firmes no chão (ou uso do apoio de pés), topo do monitor na altura dos olhos e antebraços inteiramente apoiados na mesa, deixando apenas a ponta dos cotovelos para fora. E muito cuidado com a altura da mesa: braço e antebraço devem formar um ângulo levemente superior a 90 graus, e os ombros precisam estar relaxados, nunca levantados.
As empresas, por seu turno, precisam estar atentas. Fazer pesquisas regulares com os empregados para saber sobre suas condições de trabalho, estimular o convívio virtual entre as equipes, criar programas de prevenção e campanhas de comunicação sobre o assunto também são outras recomendações.
Prioridade
No âmbito do TRT-SC, assumimos o compromisso no ano passado de reduzir o estoque de processos cadastrados exclusivamente com o assunto acidente de trabalho. Para tanto, em junho, criamos uma meta que objetivava solucionar, em cinco meses, pelo menos 10% de todas as ações pendentes de julgamento até 31 de maio de 2020. Dos 874 processos incluídos em pauta, julgamos 377, um índice de 43%, superando a meta em quatro vezes.
Não sabemos quando esta pandemia chegará ao fim. Por isso, empregadores e empregados devem colaborar para manter ambientes de trabalho saudáveis, mesmo em home office. Saúde e segurança no trabalho deve, sempre, ser uma responsabilidade compartilhada.
Roberto Guglielmetto
Desembargador do TRT-SC
Gestor Regional do Programa Trabalho Seguro