Quase 60% responderam ter conhecimento de que algum familiar já trabalhou quando criança ou adolescente
Uma pesquisa realizada com 910 alunos da rede pública de Criciúma revelou que 58% deles apresentam histórico de trabalho infantil na família. O questionário foi aplicado em novembro do ano passado, pelo Programa de Combate ao Trabalho Infantil e de Estímulo à Aprendizagem em Santa Catarina, para conhecer a realidade de crianças e adolescentes da região.
A iniciativa foi da gestora auxiliar do Programa e juíza da 2ª Vara do Trabalho de Criciúma, Rafaella Messina de Oliveira, que apresentou relatório com os resultados à Secretaria Municipal de Educação de Criciúma nesta terça (12), Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil. Também participaram do evento os diretores das 32 escolas nas quais a pesquisa foi realizada.
Responderam à pesquisa estudantes do quarto ano, entre 8 e 13 anos. Uma das perguntas, que questionava se o estudante sabia se alguém da família já havia trabalhado quando criança ou adolescente, recebeu 528 manifestações positivas.
A juíza destaca que a alta incidência de trabalho infantil verificada no histórico familiar dos respondentes é reflexo da falsa percepção social de que a prática seja positiva. “Não é raro escutar que o trabalho precoce atrai um senso de responsabilidade na criança, que inclusive garante um futuro melhor”, explica a magistrada.
Ela ressalta, no entanto, que a realidade mostra justamente o oposto. “As crianças que trabalham, muitas vezes, acabam abandonando os estudos, tornando-se adultos subqualificados. Em razão da defasagem de estudo e de qualificação, no futuro essa mesma criança será um adulto sub-remunerado, alimentando um ciclo vicioso de pobreza”, complementa.
A pesquisa também revela outros dados: 80% (735) dos respondentes já trabalharam em casa e 6,7% (61) em algum momento trabalharam fora e para pessoas que não são da família.
É importante destacar que o questionário aplicado deu liberdade para que os alunos respondessem de acordo com a própria percepção de trabalho, sem fazer distinção entre atividades ilegais e legais realizadas em casa - estas últimas compreendidas como aquelas que não sobrecarregam e nem tiram o tempo de estudo e lazer. O trabalho infantil doméstico, pelo contrário, ocorre quando a criança é utilizada para substituir integralmente o serviço de um adulto.
Entre as atividades listadas por meninos e meninas, as mais frequentes, tanto no próprio lar quanto em outros ambientes, são as de limpeza e de cuidados com outras crianças. Dentro de casa, atividades como cozinhar e organizar a casa também são as mais executados. Fora, o mais comum é a venda de produtos, como balas, por exemplo. Foram também relatados trabalhos realizados na construção civil, na lavoura e lavação de carros. Onze participantes da pesquisa disseram ter sofrido acidentes enquanto desempenhavam as atividades citadas.
Percepção
A juíza Rafaella Messina, que também foi a responsável pela elaboração do questionário, destaca que a Secretaria de Educação do município foi orientada para que não fossem feitas abordagens prévias com as crianças sobre a pesquisa. “O intuito era obter resultados fidedignos, que refletissem a percepção delas em relação à realidade em que estão inseridas”, relata a magistrada.
A magistrada dará ainda um treinamento no início de julho para professores da rede pública do município, orientando como trabalhar a cartilha “Trabalho infantil não é brinquedo!” em sala de aula.
Concurso de desenho
Na mesma data da apresentação do relatório foi lançado um concurso de desenhopara crianças do 3º e 4º anos de escolas públicas, iniciativa da Associação dos Magistrados no Trabalho da 12ª Região (Amatra12) em parceria com o Programa de Combate ao Trabalho Infantil e Estímulo à Aprendizagem.
Texto: Carlos Nogueira / Foto: divulgação
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