Pessoas cegas e com baixa visão encontram dificuldades de inserção no mercado de trabalho

Mesmo com a reserva de vagas, algumas deficiências seguem estigmatizadas na hora da seleção pelos empregadores

20/09/2024 17h53, atualizada em 22/09/2024 15h19
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O dia 21 de setembro marca o Dia Nacional da Luta das Pessoas com Deficiência. A data, instituída em 2005, tem o objetivo de conscientizar sobre a importância do desenvolvimento de meios de inclusão das pessoas com deficiência na sociedade.

Um destes meios, sem dúvidas, é a inserção no mercado de trabalho. A Lei 8.213/91 estabelece que todas as empresas com mais de 100 funcionários são obrigadas a destinar um percentual de vagas a pessoas com deficiência (PCDs) ou reabilitadas pelo INSS, variando de 2% a 5%, conforme o tamanho da organização.

De acordo com dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) em Santa Catarina, em agosto de 2024 foram contabilizadas mais de 50 mil vagas para PCDs no estado. Destas, estão preenchidas mais de 32 mil, o que representa um percentual de ocupação de cerca de 64%.

Um segundo levantamento do MTE/SC demonstrou que, até julho deste ano, a maioria dos trabalhadores com deficiência empregados formalmente no mercado catarinense são pessoas com deficiência física (40%), seguidos daqueles com deficiência visual (19%) e auditiva (18%).
 

Ações educativas


Para a juíza do trabalho do TRT-SC, Maria Aparecida Ferreira Jerônimo, que coordena o Subcomitê de Acessibilidade e Inclusão no tribunal, a reserva de vagas por si só, apesar de essencial, não é o suficiente para garantir a inclusão. É preciso aliar a aplicação da lei com ações educativas e de conscientização anticapacitista no ambiente laboral.

Para Paulo Sérgio Suldóvski, presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Conede), há uma certa exclusão velada na hora das contratações em relação às deficiências. “Temos observado, ainda que de maneira informal, que as pessoas cegas ou com baixa visão participam dos processos seletivos. Porém conforme as etapas avançam, elas vão ficando para o final da fila ou sequer recebem um retorno do potencial empregador”, analisa.

Elisana Lorenzo, coordenadora de profissionalização da Associação Catarinense para Integração do Cego (Acic), também observa o movimento relatado por Suldóvski. “Temos pessoas que frequentam a associação e que estão há muito tempo prospectando vagas, sem sucesso”, conta.
 

"Qualificada demais"


Este é o caso de Pâmela Maiara Castro Lorenz, cega e acadêmica de Análise e Desenvolvimento de Sistemas. Ela afirma ter perdido as contas de quantos processos seletivos em empresas participou no ano passado, lamentando a ausência de retorno.  

“Tive resposta de duas empresas no início deste ano, uma delas afirmando que eu era ‘qualificada demais’ para a vaga. O que é um tanto irônico, não é? Se eu estou qualificada, significa que eu consigo fazer aquele trabalho e para a empresa seria uma vantagem”, questiona.

Formado em Pedagogia, Leandro Gonzaga também é cego e está à procura de uma nova oportunidade. Ele trabalhou durante 14 anos como telefonista e, já graduado, como professor e revisor de braile (alfabeto para cegos). A dispensa do seu último emprego veio em razão de uma terceirização e, atualmente, o trabalhador já deixou currículo em diversas empresas, ainda sem ter alcançado a vaga desejada.

 

Texto: Camila Collato
Secretaria de Comunicação Social 
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