Pesquisa traça perfil do trabalho infantil com 900 alunos da rede pública de Criciúma

Quase 60% responderam ter conhecimento de que algum familiar já trabalhou quando criança ou adolescente

12/06/2018 11h24, atualizada em 14/01/2020 12h46
Juíza Rafaella Messina durante apresentação do elatório
Juíza Rafaella Messina apresentou relatório nesta terça (12)

 

Uma pesquisa realizada com 910 alunos da rede pública de Criciúma revelou que 58% deles apresentam histórico de trabalho infantil na família. O questionário foi aplicado em novembro do ano passado, pelo Programa de Combate ao Trabalho Infantil e de Estímulo à Aprendizagem em Santa Catarina, para conhecer a realidade de crianças e adolescentes da região.

A iniciativa foi da gestora auxiliar do Programa e juíza da 2ª Vara do Trabalho de Criciúma, Rafaella Messina de Oliveira, que apresentou relatório com os resultados à Secretaria Municipal de Educação de Criciúma nesta terça (12), Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil. Também participaram do evento os diretores das 32 escolas nas quais a pesquisa foi realizada.

Responderam à pesquisa estudantes do quarto ano, entre 8 e 13 anos. Uma das perguntas, que questionava se o estudante sabia se alguém da família já havia trabalhado quando criança ou adolescente, recebeu 528 manifestações positivas.

A juíza destaca que a alta incidência de trabalho infantil verificada no histórico familiar dos respondentes é reflexo da falsa percepção social de que a prática seja positiva. “Não é raro escutar que o trabalho precoce atrai um senso de responsabilidade na criança, que inclusive garante um futuro melhor”, explica a magistrada.

Ela ressalta, no entanto, que a realidade mostra justamente o oposto. “As crianças que trabalham, muitas vezes, acabam abandonando os estudos, tornando-se adultos subqualificados. Em razão da defasagem de estudo e de qualificação, no futuro essa mesma criança será um adulto sub-remunerado, alimentando um ciclo vicioso de pobreza”, complementa.

A pesquisa também revela outros dados: 80% (735) dos respondentes já trabalharam em casa e 6,7% (61) em algum momento trabalharam fora e para pessoas que não são da família.

É importante destacar que o questionário aplicado deu liberdade para que os alunos respondessem de acordo com a própria percepção de trabalho, sem fazer distinção entre atividades ilegais e legais realizadas em casa - estas últimas compreendidas como aquelas que não sobrecarregam e nem tiram o tempo de estudo e lazer. O trabalho infantil doméstico, pelo contrário, ocorre quando a criança é utilizada para substituir integralmente o serviço de um adulto.

Entre as atividades listadas por meninos e meninas, as mais frequentes, tanto no próprio lar quanto em outros ambientes, são as de limpeza e de cuidados com outras crianças. Dentro de casa, atividades como cozinhar e organizar a casa também são as mais executados. Fora, o mais comum é a venda de produtos, como balas, por exemplo. Foram também relatados trabalhos realizados na construção civil, na lavoura e lavação de carros. Onze participantes da pesquisa disseram ter sofrido acidentes enquanto desempenhavam as atividades citadas.

Percepção

A juíza Rafaella Messina, que também foi a responsável pela elaboração do questionário, destaca que a Secretaria de Educação do município foi orientada para que não fossem feitas abordagens prévias com as crianças sobre a pesquisa. “O intuito era obter resultados fidedignos, que refletissem a percepção delas em relação à realidade em que estão inseridas”, relata a magistrada.

A magistrada dará ainda um treinamento no início de julho para professores da rede pública do município, orientando como trabalhar a cartilha “Trabalho infantil não é brinquedo!” em sala de aula.

Concurso de desenho

Na mesma data da apresentação do relatório foi lançado um concurso de desenhopara crianças do 3º e 4º anos de escolas públicas, iniciativa da Associação dos Magistrados no Trabalho da 12ª Região (Amatra12) em parceria com o Programa de Combate ao Trabalho Infantil e Estímulo à Aprendizagem.

 

Texto: Carlos Nogueira / Foto: divulgação 
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