Agropecuária utiliza trabalho direto de um milhão de crianças e adolescentes, aponta estudo inédito

Pesquisa mostra como crianças e adolescentes de até 17 anos estão inseridos nas cadeias produtivas

19/11/2019 16h09
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Um relatório divulgado nesta quarta-feira (24) por representantes do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPETI) indica que a cadeia produtiva da agropecuária absorve diretamente o trabalho de mais de um milhão de crianças e adolescentes de cinco a 17 anos no Brasil. O número equivale a 30% da população ocupada nesta faixa etária (3,3 milhões) e 7% de toda a mão de obra dessa cadeira produtiva, que inclui empreendimentos ligados à agricultura, pecuária, pesca, criação de peixes e reflorestamento.

Os números foram divulgados durante a 2ª Reunião do FNPETI, que aconteceu na sede do Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região (TRT-SC), em Florianópolis, e reuniu em torno de 50 representantes dos fóruns estaduais. A pesquisa usa a base de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE (Pnad/2014) e é a primeira de uma série que o Fórum pretende realizar para investigar a exploração econômica do trabalho infantil nas cadeias produtivas . O segundo lugar da lista é ocupado pela cadeia de comércio e reparação (venda atacadista, varejista e de veículos), com 24% dos trabalhadores dessa faixa etária, seguido pelo cadeia de serviços (transporte, alojamento, alimentação, entre outros).

“Esse dados vão ajudar os gestores públicos a criar novas estratégias de combate ao problema”, afirma o coordenador do estudo, Julio César Dias, do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócioeconômicos (Dieese), lembrando que o país não conseguiu reduzir os índices de trabalho infantil nos últimos anos. “Tivemos uma redução de 57% em duas décadas, mas a curva está cada vez mais lenta. Se nada for feito, chegaremos a 2025 com uma população de 600 mil crianças e adolescentes ocupados nessa faixa etária”, projeta.

"A situação é grave porque qualquer trabalho na área rural está enquadrado nas piores formas de trabalho infantil. Por isso, se for realizado por pessoas que tenham menos de 18 anos, ele é considerado ilegal", explica a desembargadora Lourdes Leiria, gestora do Programa de Combate ao Trabalho Infantil e Estímulo à Aprendizagem do TRT-SC.

SC é 2º no ranking

No Brasil, a idade mínima para trabalhar é 16 anos, e atividades como o trabalho doméstico ou em plantações, por exemplo, são permitidas apenas a maiores de 18. A partir dos 14 é possível ingressar no mercado de trabalho, mas somente como aprendiz. Da faixa alcançada pela pesquisa, que vai até 17 anos, apenas 15% (500 mil) dos jovens atuavam em trabalhos permitidos por lei.

Junior César Dias, coordenador da pesquisa
Junior César Dias, coordenador da pesquisa

Ainda segundo os dados da Pnad, Santa Catarina ocupa o segundo lugar no ranking dos estados com maior percentual de crianças e adolescentes trabalhando, com 11,6% da sua população dessa faixa etária em atividade, atrás apenas do Piauí. SC também foi o estado que teve o maior percentual de trabalhadores na subfaixa de 16 a 17 anos — 43% do total.

Lourdes Leiria afirma que é preciso avançar na identificação e responsabilização das cadeias produtivas que exploram o trabalho precoce. "O cidadão não vai encontrar trabalho infantil num grande supermercado, por exemplo, mas o frango embalado ou a fruta que ele compra no estabelecimento podem ter sido produzidos por crianças ao longo da cadeia de fornecedores", analisa a desembargadora.

Ela também elogiou a iniciativa do FNPETI em realizar uma de suas reuniões fora de Brasília. "É importante que o Fórum conheça mais de perto as realidades locais, ainda mais em Santa Catarina, que possui um dos piores índices de trabalho infantil do país", conclui.

 

 

 

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Texto e arte: Fábio Borges 
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