Cão de serviço acompanha estagiário da 3ª Vara do Trabalho de Florianópolis durante o expediente
Em 2022, o Programa de Estágio do Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região fechou o ano com 59 contratações ativas, incluindo as áreas administrativa e judiciária. Dentre os recém-chegados estava Bernhardt Jhon Jonas Velho, estagiário da 3ª Vara do Trabalho de Florianópolis.
Diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA), nível 2, Jhon, como gosta de ser chamado, não chegou sozinho: trouxe com ele o reforço de Yoda Sheldon, um cão de serviço da raça American Staffordshire Terrier, ou simplesmente Amstaff. O amigo fiel de apenas um ano acompanha Jhon em toda sua rotina, incluindo trabalho e faculdade.
Estudante da oitava fase do curso de Direito do Cesusc, o novo estagiário teve os primeiros contatos com o universo jurídico aos 14 anos de idade, época em que se formou no ensino médio e passou a morar na rua.
Isso mesmo. Com problemas de adaptação em sua família biológica, Jhon foi forçado a sair de casa e encarou as ruas de Curitiba por aproximadamente três anos. Foi nesse período difícil que despertou seu interesse pelos livros. Ele os encontrava principalmente em estantes de leitura comunitárias.
“Eu lia muitos livros jurídicos e eu gostava daquilo, já considerava um assunto encantador. A Constituição eu li inteirinha, foi o primeiro contato com algo relacionado à lei na minha vida”, conta Jhon que, já na vida adulta foi adotado afetivamente pela Sessuana Polanski e, passou a fazer parte de uma família com a mãe e avó advogadas.
Incentivo
Ele lembra que sua mãe Sessuana sugeriu a ele fazer faculdade de Direito, o que parecia algo impossível pelo receio da interação social. Mas, por volta dos 25 anos, com diagnóstico definitivo do autismo, Jhon iniciou tratamentos médicos, o que o ajudou a decidir pelo início do curso de Direito, em 2019.
Ao assistir uma audiência de conciliação no Cejusc de Florianópolis, Jhon decidiu atuar no Direito do Trabalho. Na ocasião, pôde conferir a atuação do juiz Válter Túlio Ribeiro, titular da 2ª VT de Florianópolis, e do servidor Alberto Caldeira, da 3ª VT, que chamaram sua atenção pela forma humana e gentil com que conduziam as tratativas entre as partes.
“Mas, com a pandemia, eu regredi, e meu espectro autista passou do nível dois para o três. Ficava só em casa, não interagia com as pessoas e voltei a ter fortes convulsões”, recorda. Foi nessa época que tomou conhecimento da possibilidade de ter um cão de serviço.
Cães de serviços
Ainda pouco comum no Brasil, os cães de serviços passam por uma minuciosa seleção ainda quando filhotes. Por meio de treinamento, eles são ensinados a reconhecer e interromper momentos de ansiedade, crises sensoriais, buscar remédios e até mesmo avisar com minutos de antecedência que seu parceiro terá uma convulsão, a partir de um odor específico exalado pelo corpo antes da crise.
O acesso de cães de serviço a qualquer dependência é amparado pela Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (13.146/15), bem como pela Lei Estadual n.17.897/20. Elas asseguram e promovem, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania.
A juíza Maria Aparecida Ferreira Jerônimo, titular da 3ª VT de Florianópolis, conta que a equipe está entusiasmada com a chegada de Jhon e a felicidade que ele transmite de poder estar iniciando um trabalho. “Essa é uma oportunidade importante para abrir novas portas”, constata a magistrada, também coordenadora do Comitê de Acessibilidade e Inclusão do TRT-12.
O estagiário já tem planos: após terminar a faculdade, pretende fazer pós-graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado, além de prestar concurso para a magistratura trabalhista.
Alguém é capaz de duvidar?
Texto: Luana Cadorin
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