Pleno aprova transferência de uma vara do trabalho de Criciúma para Itapema

Nova unidade, que já “nasce” com mais de mil processos para serem julgados, vai desafogar o sobrecarregado Foro de Balneário Camboriú

11/07/2022 19h06, atualizada em 13/07/2022 17h05
Foto: divulgação Prefeitura de Itapema

O Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região aprovou por maioria de votos, na sessão administrativa desta segunda-feira (11/7), a transferência de uma das quatro varas do trabalho de Criciúma para o município de Itapema, que passará a ter a sua primeira unidade da Justiça do Trabalho. 

A decisão foi motivada por um pedido da Subseção de Itapema da OAB-SC feito inicialmente em 2014 e ratificado no início deste ano, a fim de desafogar as duas varas de Balneário Camboriú. Com base nesse pedido, o presidente do TRT-12, desembargador José Ernesto Manzi, determinou à Secretaria de Gestão Estratégica que elaborasse um estudo para analisar a viabilidade da transferência de uma das 60 unidades do estado para Itapema. A transferência seria a única opção concreta, já que os anteprojetos de lei para criação de novas unidades estão com sua tramitação suspensa há cerca de quatro anos no Congresso Nacional. 

De acordo com o sistema e-Gestão, que compila e gerencia todas as estatísticas da Justiça do Trabalho, as duas varas de Balneário Camboriú (jurisdição a qual Itapema estava vinculada) apresentaram uma média de 1.418 novos processos de 2019 a 2021, a segunda maior entre os 13 foros do estado. Por outro lado, as quatro unidades de Criciúma registraram 699 processos no triênio, sendo o foro com a menor média e a antepenúltima jurisdição, considerando foros e varas únicas.

O quadro muda pouco quando se leva em conta também os processos na fase de execução, ou seja, de cumprimento da sentença transitada em julgado. Balneário Camboriú mantém-se como foro com maior volume de casos novos por vara, considerando a soma de conhecimento e execução, com média de 2.298 no último triênio, enquanto Criciúma permanece na antepenúltima posição do ranking, com 1.479, ficando à frente apenas de Chapecó e Tubarão, com médias de 1.454 e 1.430.

Quanto às ações coletivas, que envolvem um maior número de pessoas em um mesmo processo, embora Criciúma possua mais do que Balneário Camboriú (42 em média no último triênio), esse índice se mantém abaixo da média estadual, que é de 52 ações. 

Capilaridade

Para o presidente do TRT-12, a redução dos orçamentos levou a Administração a fazer uma “escolha de Sofia”, devido à redução do orçamento da Justiça do Trabalho e a consequente impossibilidade de criar novas varas via projeto de lei. “O acesso primeiro à jurisdição se faz com o máximo de capilaridade, por isso desconsideramos do estudo as duas varas únicas (Indaial e Timbó) que apresentaram menor movimentação processual média do que Criciúma”, explicou Manzi. 

Ele garantiu que os servidores da 3ª VT de Criciúma não serão forçados a mudarem suas vidas alterando a residência para Itapema. “Primeiramente, haverá aproveitamento da maioria deles nas outras três unidades de Criciúma, que terá sua lotação-padrão modificada. Os servidores que não forem redistribuídos poderão atuar em teletrabalho, seja para Itapema ou qualquer outra unidade que apresente déficit de lotação", explicou. 

Divergência

A decana do Tribunal, desembargadora Ligia Maria Teixeira Gouvêa, apresentou um dos três votos contrários à transferência. Segundo ela, Criciúma é um pólo industrial diversificado e poderoso, com a oitava economia do Estado, e poderá reagir rapidamente caso a economia volte a crescer. “Não acredito na desaceleração do pólo industrial de Criciúma, e por esse motivo não vejo oportunidade e conveniência para essa transferência”, justificou Ligia Gouvêa. Acompanharam a decana os desembargadores Gracio Petrone e Narbal Fileti.

As entidades de classe também se posicionaram no início da sessão. Representantes da OAB-SC, Amatra-12, Sintrajusc, MPT e Associação Catarinense dos Advogados Trabalhistas se posicionaram a favor da instalação da vara de Itapema e contra a extinção da 3ª VT de Criciúma, sem, no entanto, propor como isso poderia ser feito.

Demanda reprimida

Com a mudança, mantida a média de movimentação processual dos últimos três anos cheios, cada uma das três unidades de Criciúma passaria a receber 932 casos novos, ainda abaixo da média estadual, de 1.077. As duas de Balneário contariam com 976, enquanto Itapema teria 884. Considerando os processos de conhecimento que tramitam atualmente, porém, Itapema superaria ambas, já que nasceria com cerca de 1.100 ações.

Para a desembargadora Maria de Lourdes Leiria, esses números ainda escondem uma demanda reprimida em Itapema. “Todos nós sabemos que, quando uma vara é criada em uma determinada localidade, o número de ações costuma aumentar de 50% a 100% nos dois primeiros anos, pela maior facilidade de acesso à Justiça”, argumentou a desembargadora, ao justificar seu voto favorável à transferência. 

Além de Itapema, a jurisdição da nova vara do trabalho vai compreender os municípios de Bombinhas, Tijucas e Portobelo. A questão da distância entre esses municípios e Balneário Camboriú, somada ao trânsito problemático da região, também foi levada em conta pelo colegiado. Esses três municípios ficam mais próximos de Itapema - Bombinhas, por exemplo, dista 35 quilômetros de Balneário, mas apenas 22 de Itapema. 

Para a desembargadora Mari Eleda, a mudança é “urgente” porque o jurisdicionado de Itapema e cidades vizinhas sofre há anos com esses deslocamentos. Segundo ela, as empresas da região são majoritariamente de pequeno porte, com pouca estrutura, e muitas vezes o empregador precisa fechar as portas um dia de trabalho inteiro para comparecer a uma audiência. “O trânsito na região é caótico, e o acesso à Justiça é péssimo. Por isso entendo que a proposta de mudança é nobre, humana e leva em conta os princípios da administração pública. E, acima de tudo, é republicana”, afirmou. 
 

 

Texto: Clayton Wosgrau
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