“Melhor trabalhar do que roubar” e outros mitos: palestra discute enfrentamento ao trabalho infantil

Em evento da Ejud-12, desembargadora Lourdes Leiria destacou papel do Judiciário e apresentou protocolo nacional voltado à proteção de crianças e adolescentes

26/06/2025 17h17, atualizada em 27/06/2025 18h56
Thiago Ibagy

“Melhor trabalhar do que roubar”. Essa é uma das muitas frases associadas ao trabalho infantil que a desembargadora Lourdes Leiria conclamou a serem desmistificadas em nossa sociedade, durante sua exposição realizada nesta quinta-feira (26/6), no 2º Módulo de Formação Continuada da Escola Judicial (Ejud-12). 

A palestra "Protocolo de Atuação e Julgamento com Perspectiva da Infância e da Adolescência", conduzida pela desembargadora e mediada pela juíza Janice Bastos, integrou a programação do evento, realizado no auditório da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SC) Subseção de Criciúma.

Confira o álbum de fotos do evento (link externo)

“Tem que trabalhar para ajudar a família”, “o trabalho dignifica”, “é bom porque aprendem desde cedo” - essas falas, frequentemente reproduzidas no cotidiano, são mitos e refletem a normalização do trabalho infantil na sociedade brasileira, destacou a magistrada.

Na ocasião, Leiria - que desde 2012 integra o Programa de Combate ao Trabalho Infantil e Estímulo à Aprendizagem da Justiça do Trabalho - desmistificou essas crenças e apresentou o Protocolo para Atuação e Julgamento com Perspectiva da Infância e da Adolescência, que reúne saberes, diretrizes e recomendações voltadas à atuação de magistrados e magistradas em julgamentos sobre o tema.

O documento, que tem como objetivo garantir a proteção integral e prioritária de crianças e adolescentes contra o trabalho infantil, foi elaborado por um grupo de trabalho formado por juízes da 5ª (BA) e da 21ª (RN) Regiões, com base em estudos e legislações nacionais e internacionais.

Como atuar sob a perspectiva da infância?


A desembargadora explicou que o protocolo oferece orientações para assegurar o melhor atendimento possível às vítimas. Segundo ela, desconstruir mitos e priorizar processos de gestantes são exemplos de como atuar sob a perspectiva da infância.

“Ao dar prioridade aos processos de gestantes, você está protegendo a primeira infância”, afirmou. Leiria também destacou o papel fundamental de psicólogos e assistentes sociais, ao contribuírem com uma escuta ativa e evitarem a revitimização de crianças e adolescentes vítimas de violência.

 

Jovem aprendiz


Mais de 1.6 milhão de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos estão trabalhando no Brasil, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), com dados de 2023. Destes, 586 mil estão nas piores formas de trabalho infantil — em áreas rurais, no trabalho doméstico ou nas ruas.

Os dados são alarmantes e apontam para o risco de descumprimento das metas da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), que prevê a erradicação do trabalho infantil nos próximos cinco anos. Em Santa Catarina, cerca de 40 mil crianças e adolescentes ainda se encontram nessa condição.

Nesse contexto, a desembargadora destacou o Programa Jovem Aprendiz como uma alternativa segura. Ela foi responsável por implantar o Programa de Aprendizagem no TRT-SC ao final de sua gestão como presidente, em novembro de 2021. Atualmente, o tribunal conta com 42 aprendizes.

De acordo com Leiria, a condição de aprendiz é a única forma segura e legal de inserção de adolescentes no mundo do trabalho. Durante a palestra, ela compartilhou o plano de ampliar o Programa.

“Estamos nos empenhando para que possamos ter um aprendiz em cada unidade judiciária. Isso vai oferecer oportunidade de trabalho decente, principalmente no interior do estado”, concluiu.

 

Visita técnica com palestra e roda de conversa

 

Juíza Maria Beatriz (de preto, de costas) conduziu roda de conversa sobre trabalhadores migrantes



Após a palestra, a programação do Módulo continuou com duas visitas realizadas pelos magistrados e magistradas presentes. A primeira delas foi ao Bairro da Juventude, organização social que atende crianças e adolescentes desenvolvendo projetos de educação integral, assistência social, saúde, inovação, criatividade e sustentabilidade. De acordo com o portal da instituição, sua missão é "promover, por meio da educação e assistência social, a garantia de direitos para crianças, adolescentes, jovens e suas famílias".

Juiz Rodrigo Goldschmidt falou sobre a NR1


No período da tarde, os juízes e juízas realizaram uma visita técnica à empresa Plasson do Brasil Ltda., empresa de equipamentos avícolas fundada em Israel que possui fábricas próprias em outros sete países, sendo em Criciúma sua matriz brasileira. Desde 2016 é parceira do Programa Trabalho Seguro do TRT-SC. 

Durante a visita, foi realizada a palestra "Alterações da NR1: Riscos psicossociais e saúde mental dos trabalhadores", ministrada pelo juiz titular da VT de Araranguá, Rodrigo Goldshmidt, com mediação da juíza do trabalho Julieta Malfussi. Em seguida, os magistrados e magistradas assistiram à roda de conversa "Como é ser trabalhador migrante no Brasil?", conduzida pela juíza do trabalho Maria Beatriz Vieira da Silva Gubert com a participação de Cirineu Tavares dos Santos, Danildo dos Santos Marques, Ivety Luisa Pereira Cesar e Jean Ximendes Pardim. 

Após essa programação, os participantes visitaram a área fabril da empresa. 
 

Último dia


O 2º Módulo da Ejud-12 termina na manhã desta sexta-feira (27/6) com uma oficina sobre "Processo participativo de metas 2025", uma palestra com o tema "Redes sociais e relações de trabalho" e a participação de um radialista, que vai falar sobre "Fragmentos da história de Criciúma".
 


 


Texto: Nathaly Bittencourt (estagiária)
Supervisão: Priscila Tavares
Secretaria de Comunicação Social  
Divisão de Redação, Criação e Assessoria de Imprensa 
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