Na terceira reportagem da série em homenagem ao Mês do Trabalhador, veja como uma juíza especialista em provas digitais conseguiu localizar uma patroa inadimplente
As pessoas são responsáveis por tudo que falam, fazem e…. postam. Inclusive, pelo processo trabalhista do qual tentam se esquivar. Esta é a história de como uma postagem em uma rede social ajudou a juíza Danielle Bertachini, da 7ª Vara do Trabalho de Florianópolis, a localizar a ré de uma ação.
Era 2021 e a sociedade ainda sofria com as mudanças causadas pela pandemia de covid-19. Foi quando em uma audiência virtual a autora do processo, uma trabalhadora doméstica, estava processando a Mari*. “Era tudo o que eu sabia sobre a ré: o primeiro nome”, lembra a magistrada.
A autora relatou que havia trabalhado na casa da Mari como doméstica e babá, durante um mês, pelo salário ajustado de R$ 1,5 mil. A jornada se estendia das 8h30min às 20h, de segunda a domingo, com pagamento via Pix.
Segundo a doméstica, quando ela questionou a patroa sobre o vínculo trabalhista, houve um desentendimento, razão pela qual se demitiu. Ela então buscou a Justiça do Trabalho para obter as verbas rescisórias devidas pelo período.
Investigação digital
Porém, havia a questão de descobrir, afinal, quem era “Mari”. E tal missão não poderia estar em mãos mais adequadas: Bertachini já ministrou diversas palestras e cursos sobre provas digitais, sendo também organizadora do livro “Provas Digitais no Processo do Trabalho: Realidade e Futuro”.
Após a demissão, a patroa bloqueou a trabalhadora nas redes sociais e no aplicativo de mensagens pelo qual se comunicavam. As conversas privadas no Instagram, no entanto, ficaram registradas, e a juíza então acessou o perfil público que “Mari” mantinha. Nele, a magistrada localizou uma foto em que a patroa mostrava o seu cartão de vacinação contra a covid-19. “No documento estava o nome completo dela, bem claro. A partir dele, conseguimos todos os demais dados cadastrais”, conta a juíza.
Uma casa no sítio
A magistrada acessou outra rede social, focada em conexões profissionais. Ali encontrou o perfil da ré e a empresa na qual trabalhava, um escritório de contabilidade. Pronto, já havia um endereço para localizar a parte e realizar a intimação. “Também por meio das fotos identificamos o sítio em que ela estava ficando na pandemia, que era de seu pai, em Rancho Queimado”, lembra.
Apesar de ter sido localizada, a patroa não compareceu à audiência e não apresentou justificativa. Deste modo, como prevê a lei, o relato da trabalhadora foi considerado verdadeiro e o vínculo de emprego reconhecido. A ré foi condenada a pagar as verbas rescisórias e a realizar a anotação na carteira de trabalho da autora.
* O nome da parte foi alterado para preservar sua identidade.
Texto: Camila Collato
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