Detetives da JT: a diretora e a sigla misteriosa

Na quinta e última reportagem em homenagem ao Mês do Trabalhador, confira como a diretora da VT de Mafra desfez uma confusão em oito contas judiciais para garantir que todos recebessem seus créditos

30/05/2025 14h23, atualizada em 30/05/2025 17h21
Arte: Diogo Luís

Além de julgar processos, as varas do trabalho buscam evitar saldos esquecidos nas contas judiciais, fazendo com que a etapa da execução - momento da cobrança da dívida trabalhista - seja eficiente. Por meio de projetos como o Garimpo, criado em 2019, a Justiça do Trabalho tem aperfeiçoado esse trabalho, conseguindo liberar saldos pendentes em processos antigos - somente no ano passado, foram R$ 7 bilhões em todo o país, sendo R$ 39,4 milhões em Santa Catarina.

Em uma destas investigações, porém, a diretora de secretaria da Vara do Trabalho de Mafra, Lucia Juraszek, se deparou com uma situação inusitada em 2021. Ela detectou oito contas judiciais em que o titular aparecia como “Depósitos migrados CPR”. Intrigada, verificou que em dois processos os valores dos créditos eram iguais: pouco mais de R$ 1 mil cada. As partes também possuíam o mesmo sobrenome.  

A diretora da VT então observou que ambos eram irmãos e conseguiu localizar a mãe deles, uma servidora aposentada do INSS cujo marido era militar e com quem teve os filhos. O esposo faleceu quando os filhos eram pequenos e um processo de inventário na Justiça Estadual (TJ-SC) foi aberto.

A aposentada possuía cópias de documentos desse processo e, ao analisá-las em conjunto com a diretora da secretaria da vara, verificou-se que foram abertas contas de poupança em nome das crianças na agência local do Banco do Brasil.

“Conversando com a parte envolvida, ela me confirmou que nunca houve ação trabalhista proposta por seu marido”, relata Lucia, que foi até a agência bancária para entender o que havia acontecido. O processo, que na verdade tramitava na Justiça Estadual, acabou tendo suas contas erroneamente vinculadas, pelo banco, à Justiça do Trabalho por causa de valores originários de PIS/PASEP/FGTS.
 

Benefício previdenciário


Após desvendar o primeiro mistério, Lucia partiu para a terceira conta identificada como “Depósitos migrados CPR”. O caso era semelhante: uma senhora, sob tutela de um terceiro, aguardava para receber um benefício do INSS. Na conta, constavam quase R$ 7 mil.

A servidora deu ciência à Corregedoria do TRT-SC e solicitou orientações para que os pagamentos fossem transferidos ao processo correspondente. O então corregedor, desembargador Nivaldo Stankiewicz, autorizou os juízes da VT de Mafra e a própria diretora a expedir ofícios para que o banco disponibilizasse os valores para a Justiça Estadual. E assim foi feito.

As demais cinco contas que tinham a mesma identificação foram verificadas pelo banco e vinculadas corretamente ao respectivo processo em trâmite no TJSC, fazendo com que as pessoas que aguardavam seus pagamentos conseguissem recebê-los de fato.
 


Texto: Camila Collato
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