TRT/SC tenta localizar credores de processos com quase 20 anos e valor estimado em 3,5 milhões
O Tribunal Regional do Trabalho tomou a iniciativa para por fim em uma de suas pendências mais antigas: três ações trabalhistas do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviço de Saúde contra a extinta Fundação Hospitalar de Santa Catarina, interpostas em 1989 e que envolvem em torno de sete mil pessoas.
Agindo como detetives, dois servidores têm se debruçado sobre listas telefônicas, ferramentas de busca na internet e banco de dados de diversas instituições públicas que possuem convênios com o TRT/SC na tentativa de encontrar as pessoas que não foram localizadas pelo sindicato para retirar o dinheiro que lhes pertence. O valor devido pelo Estado nessas ações gira em torno de 3,5 milhões.
Mudanças de cidade e até de país, alteração de nome e doenças são alguns dos motivos que dificultam a localização dos reclamantes nesse tipo de ação, em que um sindicato acaba substituindo uma grande quantidade de filiados. O valor total dos alvarás judiciais (documento que autoriza o saque do dinheiro) pendentes era R$ 527 mil quando o trabalho foi iniciado, na primeira semana de maio. Mais de 65% desse valor, 344 mil, já foram pagos para 122 reclamantes que os servidores Cláudia Rodrigues Coutinho Cavalheri e Geison Alfredo Arisi conseguiram localizar. Restam, ainda, 123 pessoas.
Os servidores estimam, no entanto, que o valor total dos recursos disponíveis para serem liberados é muito maior. “Constatamos que nas contas judiciais o total depositado chega a R$ 3,5 milhões”, relata Cláudia. O próximo passo, agora, é encontrar os demais credores, o que será feito a partir da confrontação entre as informações que constam das contas judiciais de cada reclamante, depositadas no Banco do Brasil, e as cópias dos alvarás em poder da 3ª VT de Florianópolis.
O trabalho de investigação reservou surpresas para Cláudia e Geison. “Em alguns casos, as pessoas chegam a desligar o telefone na nossa cara. Acham que é trote ou algum operador de telemarketing”, conta Geison. Foi o que pensou, por exemplo, a professora de matemática Lisie de Luca Maciel. Ela ficou bastante desconfiada quando seu pai, Walmor Alves Maciel, contou-lhe que tinha recebido uma ligação do TRT. “Fui logo avisando para ele não mandar nenhum dado por e-mail que poderia ser golpe”, conta. Lisie acabou levando para seu pai, que mora em Sombrio, R$ 839.
As desconfianças, no entanto, não impediram os servidores de encontrarem credores na Alemanha, em Portugal e até no Japão. E os próprios reclamantes que já retiraram seus alvarás têm ajudado a localizar os colegas. “Acabamos criando uma rede de contatos bastante ágil”, diz Cláudia. Rede que passou a contar também com Maria Terezinha Santos, que recebeu sua parcela na quinta-feira (05). “Vou ajudar o Tribunal. Conheço algumas pessoas que trabalhavam comigo e vou avisá-las para verificarem se também têm dinheiro para receber”, afirma.
Hora Certa
Para alguns, o dinheiro não poderia ter chegado em melhor hora. É o caso, por exemplo, do corretor de imóveis Adalberto Zorzo. Sua casa chegou a ser leiloada em razão de uma disputa judicial e, com os R$ 7,5 mil recebidos, conseguiu resgatá-la. “Nunca recebi um dinheiro que tenha me chegado em tão boa hora”, diz. Na opinião dele, era o sindicato da categoria quem deveria fazer esse trabalho. “Por isso o TRT está de parabéns, merece a 'ISO 100 mil' por esse tipo de atendimento”, elogia.
Em outros casos, o dinheiro foi uma questão de saúde. Um dos credores da extinta Fundação Hospitalar de Santa Catarina, que pediu para não ser identificado, era portador da síndrome de Chron, doença inflamatória grave do intestino que, em alguns casos, pode causar lesões e abcessos que facilitam infecções. Os R$ 3 mil que recebeu serviram para fazer um complexo exame.
Fonte: Diário Catarinense (com informações acrescentadas pela Ascom TRT/SC)
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